a tentação é enorme! enorme, e falo só por mim. quantas vezes, ultimamente, não dei já por mim a querer meter-me nos negócios dos outros, dando-lhes dicas para que desmontem a sua sombra? posso até justificar-me, arranjar mil desculpas do tipo 'não é normal que queira ajudar?', ou 'foi uma coisa importante para mim e só estou a querer que seja importante para os outros'.
e, então, se preciso de me justificar, é porque estou a contar uma história. e essa história é assim: 'eu sei o que é melhor para ti.'
afasto a tentação da boa aluna tão boa que até já quer ser professora e foco-me apenas em mim. e descubro que ninguém me ensinou coisa nenhuma, fui eu que aprendi - e que continuo a aprender, ao meu ritmo e à minha medida.
e então foi assim: um dia, cheguei ao Emídio através do Henrique. simplesmente, porque ele partilhou um texto da Sombra Humana no seu mural e eu li - mas ele nunca me disse 'olha, lê isto, porque é mesmo bom!' - embora o pudesse ter dito, mas esse negócio é dele :) ele próprio - calculo - tinha encontrado esse texto noutro mural e levou-o consigo. calculo que só porque sim. e não porque alguém lhe tivesse dito 'olha, lê isto, porque é mesmo bom!' - mas nem isso sei...
sei, isso sim, que aquele texto bateu-me! 'apanhei-o', sem que ninguém mo tivesse impingido, e foi a ponta de um fio de uma meada que não mais larguei. alguém me ensinou como se desenrolava a meada? não, fui eu que aprendi. ou que fui aprendendo, que vou aprendendo, porque é uma meada para o resto da vida - que privilégio :)
desse texto saltei para os outros, disponíveis no blog. lembro-me de ter ficado a lê-los pela noite dentro e, na manhã seguinte, mandei um e-mail ao Emídio. não o conhecia de parte nenhuma, ninguém me ensinou como podia entrar em contacto com ele, o e-mail estava ali, nos contactos, escrevi-lhe porque me apeteceu.
depois ficámos amigos no FB. ainda que só virtualmente, acompanhava-o. lia o que escrevia e havia dias, confesso, em que ele me irritava! aquele 'delicioso!' chegava a ser uma afronta, sobretudo nos dias em que eu me sentia frustrada, irritada, zangada. havia mesmo alguns dias em que pensava: 'mas como é que este gajo está sempre tão bem disposto?' havia outros em que nem sequer era 'gajo', era mesmo 'cabrão', e nesses dias eu estava mesmo, mesmo zangada... comigo.
mas, lá no fundo, era isso que eu queria aprender: a delícia de estar em paz com a vida, fossem quais fossem as circunstâncias, os desafios, as pessoas que se relacionavam comigo. mas nunca o Emídio veio até mim para me dizer: 'anda, anda que eu vou ensinar-te.' pelo contrário, sempre me disse 'a mim tanto me faz que venhas ou não.'
também nunca o 'impingi' a quem quer que seja, embora pusesse os seus textos no meu mural, acreditando que, assim como eu, quem quisesse ler mais, saber mais, aprender, iria atrás dele como eu tinha ido.
conheci-o algum tempo depois, numa conversa que lhe pedi para um livro que estava a escrever. hoje, dou-me conta de que talvez tenha usado esse artíficio para o conhecer, a cores e ao vivo, antes de me meter a fazer mais coisas com ele, mas não tenho a certeza.
não sei quantos meses já se tinham passado - de muitas leituras, escritas, perguntas, voltas e reviravoltas, desabafos como os que já revelei - quando enfim fiz o primeiro workshop com ele. uma tarde que me soube a pouco - mas onde ouvi falar do livro da Debbie Ford. mais uma vez, ninguém me ensinou que devia ir comprá-lo, nem me foi impingido. fui porque sim. fui porque quis. e aprendi mais qualquer coisa, enquanto o lia. depois disso, fiz um workshop de um fim de semana. e, a seguir, a semana na Escola.
note-se que nada disto é publicidade ao Emídio, porque ele não precisa de publicidade para nada. é apenas mais um exercício - comigo e para mim. se hoje já me desmonto com algum à vontade, se já sei ver que é sempre de mim que se trata, se pego na coitadinha de mim e a abraço e lhe digo 'olha lá, minha parva, que tal fazeres uma lista do que esse queixume ou essa mágoa significam para ti?', se até já sou capaz de dizer 'que delícia' quando me furam um pneu do carro e sentir que a paz me atravessa... é só graças a mim. fui eu quem se disponibilizou para aprender. e, não, não tenho nada para ensinar a ninguém e até os textos que escrevo são, antes de mais, pelo gosto que tenho em escrevê-los.
quanto ao resto, vou estar mais atenta, porque a tentação de me armar em boa aluna tão boa que até já quer ser professora é enorme!
e se por acaso alguém me vier perguntar o que é isso da sombra e estiver interessado em descobrir-se... não chega falar-lhes de mim e do que tenho aprendido. se é assim tão delicioso e tão fácil como aquilo que apregoo, há que dar o exemplo e continuar a aprender. todos os dias um pouco.
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