e vi-me à espera. imaginei-me à espera. observei como, também eu e tantas vezes, já esperei e ainda espero que o que é e não devia ser passe a ser o que devia. e depois ri-me. de que forma aquilo que é devia ser uma outra coisa? quantas vezes resultou acreditar que aquilo que é não devia ser assim? as vezes todas que pensei que 'não devia haver guerra'. e as guerras continuam. as vezes todas que defendo que 'não devia haver fome'. e a fome continua. as vezes todas que a revolta me levou ao desespero: 'o Pippo não devia ter morrido'. e ele morto há doze anos. as vezes todas em que ralho com os meus filhos, 'não devias ser assim', e eles sempre sendo aquilo que são...
mas vamos ao 'caso chocante'. podem lê-lo aqui na íntegra. onde é que realmente ele é chocante? e onde é que andar a divulgá-lo faz de nós boas pessoas? onde é que nos indignamos? onde é que exercemos sobre nós essa 'extrema violência psicológica', sempre que acreditamos que aquilo que é devia ser de outra maneira?
ah, dizem vocês, e então não se faz nada?... deixa-se assim um pai 'narcisista, obsessivo e complusivo' retirar um filho de 11 anos, 'brilhante aluno', a uma mãe 'premiada por solidariedade social a nível mundial'? e, no entanto, é bom saber que o autor desta denúncia assume não conhecer as pessoas de quem fala e que está só a exercer uma 'cidadania responsável'.
é claro que ele não conhece as pessoas de quem fala. conhece simplesmente as histórias que se contam sobre as pessoas de quem fala. e a história que se conta é que o pai é narcisista, obsessivo e compulsivo. e que o filho é um 'brilhante' aluno. e que a mãe é 'premiada por solidariedade social'.
e assim - suspiro de alívio - podemos reconhecer-nos, porque a história não difere assim tanto das que também nós contamos - sobre nós e sobre os outros. histórias onde há sempre um mau - o pai obsessivo e narcisista e compulsivo - histórias onde há sempre um bom - a mãe solidária e premiada - histórias onde há sempre um coitadinho - brilhante aluno, ainda por cima, o que com sorte irá fazer com que seja um pouco mais coitado ainda!
se formos boas pessoas - como queremos que acreditem que nós somos - vamos atacar o pai, vamos defender a mãe e vamos ter pena do filho. a 'cidadania responsável' fica assim bem exercida, sobretudo se, para além de atacar o pai e de defender a mãe e de ter pena do filho, formos capazes de vender esta versão ao maior número possível de pessoas. todas boas, pois está claro, e que também se indignarão e chamarão nomes ao pai - que não devia ser narcisista, obsessivo e compulsivo - que irão prestar a sua solidariedade à mãe - reconhecida e premiada a nível mundial! - e que irão ter tanta, tanta pena deste filho de 11 anos.
e acordar? não?
e exercer, cada um, uma individualidade responsável, não?
se um pai narcisista, obsessivo e compulsivo me atrapalha... será que sou, também eu, de alguma forma, narcisista, obsessiva e compulsiva? será que em cada de um vós não existe um narcisista, um obsessivo, um compulsivo? ah, dizem vocês - pessoas boas, responsáveis e decentes - claro que não!
eu não estaria tão segura. mas, isso sim, é tão chocante! descobrir onde somos narcisistas, complusivos e obsessivos. onde exercemos violência psicológica sobre os filhos. onde somos tudo aquilo que, de acordo com as crenças, 'não devia ser assim'.
será que não sabemos ser mais solidários com nós mesmos e darmo-nos o prémio de começarmos a acordar? onde é que o filho coitadinho são vocês? onde é que ainda se alimentam da mentira que o que é não devia ser assim? em que planeta? onde podemos ser brilhantes como alunos?
e volto à voz clara e doce do Emídio: 'se é assim tão fácil ser diferente, poderás dar o exemplo?'
mas vamos ao 'caso chocante'. podem lê-lo aqui na íntegra. onde é que realmente ele é chocante? e onde é que andar a divulgá-lo faz de nós boas pessoas? onde é que nos indignamos? onde é que exercemos sobre nós essa 'extrema violência psicológica', sempre que acreditamos que aquilo que é devia ser de outra maneira?
ah, dizem vocês, e então não se faz nada?... deixa-se assim um pai 'narcisista, obsessivo e complusivo' retirar um filho de 11 anos, 'brilhante aluno', a uma mãe 'premiada por solidariedade social a nível mundial'? e, no entanto, é bom saber que o autor desta denúncia assume não conhecer as pessoas de quem fala e que está só a exercer uma 'cidadania responsável'.
é claro que ele não conhece as pessoas de quem fala. conhece simplesmente as histórias que se contam sobre as pessoas de quem fala. e a história que se conta é que o pai é narcisista, obsessivo e compulsivo. e que o filho é um 'brilhante' aluno. e que a mãe é 'premiada por solidariedade social'.
e assim - suspiro de alívio - podemos reconhecer-nos, porque a história não difere assim tanto das que também nós contamos - sobre nós e sobre os outros. histórias onde há sempre um mau - o pai obsessivo e narcisista e compulsivo - histórias onde há sempre um bom - a mãe solidária e premiada - histórias onde há sempre um coitadinho - brilhante aluno, ainda por cima, o que com sorte irá fazer com que seja um pouco mais coitado ainda!
se formos boas pessoas - como queremos que acreditem que nós somos - vamos atacar o pai, vamos defender a mãe e vamos ter pena do filho. a 'cidadania responsável' fica assim bem exercida, sobretudo se, para além de atacar o pai e de defender a mãe e de ter pena do filho, formos capazes de vender esta versão ao maior número possível de pessoas. todas boas, pois está claro, e que também se indignarão e chamarão nomes ao pai - que não devia ser narcisista, obsessivo e compulsivo - que irão prestar a sua solidariedade à mãe - reconhecida e premiada a nível mundial! - e que irão ter tanta, tanta pena deste filho de 11 anos.
e acordar? não?
e exercer, cada um, uma individualidade responsável, não?
se um pai narcisista, obsessivo e compulsivo me atrapalha... será que sou, também eu, de alguma forma, narcisista, obsessiva e compulsiva? será que em cada de um vós não existe um narcisista, um obsessivo, um compulsivo? ah, dizem vocês - pessoas boas, responsáveis e decentes - claro que não!
eu não estaria tão segura. mas, isso sim, é tão chocante! descobrir onde somos narcisistas, complusivos e obsessivos. onde exercemos violência psicológica sobre os filhos. onde somos tudo aquilo que, de acordo com as crenças, 'não devia ser assim'.
será que não sabemos ser mais solidários com nós mesmos e darmo-nos o prémio de começarmos a acordar? onde é que o filho coitadinho são vocês? onde é que ainda se alimentam da mentira que o que é não devia ser assim? em que planeta? onde podemos ser brilhantes como alunos?
e volto à voz clara e doce do Emídio: 'se é assim tão fácil ser diferente, poderás dar o exemplo?'
Viva Inês.
ResponderEliminarQuanto ao conteúdo, sem comentários...
Mas apetece-me congratular-te pela coragem de fazeres diferente e, sobretudo, de o mostrares..
Um abraço,
Filomena
Fantástico Inês! Parabéns pela lucidez.
ResponderEliminarBeijinho
Irene