segunda-feira, 15 de novembro de 2010

ah, o desapego!...

a acreditar no diccionário, 'desapego' é indiferença, é desinteresse, é desamor, é abandono. mas então porque será que tanta gente apregoa e enaltece o desapego, como condição sine qua non para acabarmos com os dilemas, com as angústias, com as sensações de posse e de controlo, com o sofrimento? como é que se pratica o desapego sem cair na indiferença? sem cultivar o desinteresse? sem regredir ao desamor? sem votar nenhum ser ao abandono? ou a definição no diccionário não está certa e 'desapego' é outra coisa, ou andamos, simplesmente, a negar a nossa essência. qualquer árvore, para crescer, tem de se apegar  à terra, pois é lá que se enraíza. o que seria se uma árvore, possuída pela nossa humanidade, decidisse que o seu apego à terra, afinal, era perverso?... como seria se, possuídos pelo espírito das árvores, nos permitíssemos apenas crescer como elas crescem? enraízarmo-nos na terra, sem indiferença pelo sol, sem desinteresse pela chuva, sem desamor por  quem se abraça ao nosso tronco ou vem colher dos nossos frutos, sem abandonar a esperança de um dia tocar no céu e co-criando a existência juntamente com o todo? como será se o 'desapego', num diccionário equivocado de emoções, nos criar essa ilusão de 'independência' e nos 'desconectar' do todo?...

10 comentários:

  1. Profundo... Intenso... sincero e verdadeiro.
    A dias que pergunto o porque de eu ser tão apegada a todos aqueles que me tratam com desapego.

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  2. Olá Inês,

    Lindo texto e muito bem analisado. Em meu entender, não é comparável o 'desapego' que fala com o desapego de uma árvore à terra onde deita as raízes. Podemos e devemos 'desapegar' sem cairmos nesse abandono, nesse desamor.

    'Desapego' só é possível quando, continuando a existir 'amor' e 'ternura', e estando reunidas as condições necessárias, não se verificar mais o controle. Do outro ou da coisa.

    'Desapego' não significa perder o contacto, afastamento, desenraizamento. Significa sim, encontrarmos o nosso próprio espaço sem que esteja a controlar coisa alguma.

    Quando esse 'desapego' nos desconecta do todo, será outra coisa qualquer, talvez o início de duas possibilidades: um misticismo sem jeito ou a preparação metafísica para o desencarne. Já passei por este último caso.

    Belíssimo texto.

    beijos

    António

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  3. A meu ver, mesmo uma árvore, a qual necessita da terra para se nutrir, da água para se irrigar e do sol para liberar o oxigênio, ela sufocaria se uma planta parasita não a liberasse, sendo ela a hospedeira, pois a parasita lhe sugaria seu alimento vital.

    Mesmo as árvores, por mais resistentes que sejam, se expostas ao sol excessivamente forte podem perecer devido ao calor, pois muitas florestas são dizimadas devido a combustões espontâneas. O mesmo ocorre quando uma tempestade muito forte faz com que um volume de água se acumule, e o fluxo da correnteza feroz arranca as árvores pela raiz.

    No caso dos seres humanos, mesmo que necessitem de amor, quando um apego é tão excessivo que lhes impede o crescimento, este deixa de ser amor e passa a configurar um sentimento prejudicial, como ocorre em casos de obsessão, de sentimento de possse ou de ciúmes. Muitas vezes o desapego e o deixar ir são as maiores demonstração de amor, pois permite o crescimento e o desenvolvimento da outra pessoa. Havendo espaço para tal, livre de sentimentos mesquinhos, haverá a possibilidde de que se trilhem os caminhos individuais, ambos compartilhando sentimentos saudáveis.

    Usando esta metáfora, pode-se afirmar que o segredo está em se viver com equilíbrio sem os excessos que destroem e corroem a alma.

    Cristina Rios

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  4. Mary, se calhar é apegada aos que a tratam com desapego... e desapegada dos que a tratam com apego... complicado gerir 'definições' e 'diccionários'... complicado pôr em prática aquilo que sentimos ser verdade... complicada, esta língua de palavras, e tudo afinal tão simples... basta sermos fiéis à nossa essência.

    abraço.

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  5. Querido António... é isso mesmo :) encontrar o nosso próprio espaço, sem querer controlar mais coisa alguma. e continuando a existir o amor e a ternura.

    beijos de volta.

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  6. Cristina, quando um apego é tão excessivo... não é amor de certeza! pode até pensar-se que sim, mas é, simplesmente, outra coisa... e, sim, 'muitas vezes o desapego e o deixar ir são as maiores demonstrações de amor...' não por permitirem o crescimento da outra pessoa, mas por serem uma manifestação de amor por nós mesmos.

    beijo.

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  7. intenso... ecoando por mim adentro, por entre raízes e "braços" esticados para o céu , na procura do encanto do desapego, ao encontro de um eu mais ousado e livre, por entre as dificuldades, ... caminhante ... no caminho do amor ... ao encontro do amor ...

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  8. blablabla: na ilusão dos porquês...

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  9. desapegando:

    'A mente nada mais é que desejos. O coração não conhece desejos. Você ficará surpreso ao saber que todos os desejos pertencem à cabeca. O coração vive no presente, ele pulsa e bate no aqui e agora. Ele nada conhece a respeito do passado e do futuro. Ele sempre está aqui e agora.' oshando...

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  10. totalmente de acordo, querido H. o coração pulsa e bate no presente. sempre ♥

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