foi há cerca de um ano que o Sky e a Lucy chegaram cá a casa. ele cinzento, ela branca, depressa se habituaram à nossa vida de humanos e nos brindaram com a sua magia, sem terem sequer de sair de cartola nenhuma, mas apenas correndo, livres, na relva, ou escondendo-se atrás dos troncos das buganvílias ou das folhas da hera.
aqui da casinha onde escrevo e onde passo grande parte dos dias, via-os aos pulos, para cá e para lá. a Madalena estava encarregue da Lucy e a Luisinha do Sky, a convivência era pacífica, a Francisca e o Lucas achavam-lhes graça e até o Jimmy, o nosso hamster, era de vez em quando chamado para a brincadeira.
numa noite de frio em que não dormiu ninguém cá em casa, a nossa empregada chegou de manhã e encontrou o Sky 'desmaiado' e sem forças. pegou-o ao colo, aqueceu-o com um secador de cabelo, deu-lhe mimos, mas a verdade é que nunca mais foi o mesmo. não voltou a pular com a mesma alegria e estava mesmo, mesmo fraquinho...
acabou por morrer, poucos dias depois, ao meu colo e na altura fiquei em estado de choque. ainda que fosse só um coelho, nunca nenhum ser vivo me tinha morrido no colo e não me sentia capaz de dar destino ao seu corpo. foi só no dia seguinte que decidi cavar um buraco, debaixo ali da nespereira do fundo. devolvi à terra o corpo do Sky, tapei o buraco e enfeitei-o com flores e com conchas, e acreditei que a sua alma seguia a caminho do céu dos coelhos. depois, preparei-me para contar à Madalena e à Luisinha o que se tinha passado. a Luisinha desfez-se num pranto... durante os dias que se seguiram, ia até ao lugar onde o Sky estava enterrado e, quando voltava, sempre a chorar, confessava: 'não aguento ir àquele cemitério, mãe!' houve até uma vez em que me pediu: 'não contes à Lucy que o Sky morreu, porque eu disse-lhe que ele só tinha ido de férias...' a verdade é que, não sei se de tristeza e saudades ou apenas porque os coelhos são frágeis, a Lucy foi ter com o Sky ao céu dos coelhos pouco tempo depois. também dessa vez, eu não estava a casa. regressava da Serra da Estrela quando as minhas filhas falaram a dar-me a notícia e a Madalena era agora a que estava mais triste.
hoje, depois de um almoço com uma amiga, vinha a passar pela rua quando as vi a olharem para mim, através do vidro da montra. não sabia ainda que eram duas meninas, cheguei a pensar que fossem o Sky e a Lucy reencarnados, e entrei na loja para os ver mais de perto. expliquei ao senhor que já tinha tido dois coelhinhos, mas que tinham vivido tão pouco tempo que tinha medo de voltar a levar mais dois para casa. o senhor riu-se e disse-me para ter cuidado com as verduras e para lhes dar ultra-levur assim que visse que estavam com diarreia e que o resto era a vida! ao contrário do que pensava, não eram outra vez macho e fêmea, mas duas meninas. assim que chegámos a casa, tirei-as da caixa e pu-las na relva. percebi que estavam muito assustadas... fiz-lhes festinhas e baptizei-as: Shanti, a branca e Becky, a outra malhada.
chegámos há nem uma hora e já estão aos pulinhos na relva. vejo-as daqui a correr, mordiscam as ervas, não sei até que ponto lhes podem fazer diarreia... mas prendê-las o dia inteiro na 'gaiola' também não faz muito sentido... não tarda, saio para ir buscar a Madalena e a Luisinha.
ainda não sabem, está claro, que voltou a haver magia na relva e já sei que logo ao jantar vai haver 'discussão' e todos vão querer que se chamem outra coisa que não Shanti e Becky... mas, independentemente dos nomes, aposto que vão ficar os quatro contentes.
Certamente, hoje será uma belissima supresa quando chegarem a casa ;)
ResponderEliminarQue fofinhas!!! Vida longa às duas :)
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