... quando tu eras pequenina,
o mundo era a preto e branco?
refaço o caminho e vejo-o, de facto, retratado apenas e só em tons de cinzento. quero convencer-me que era da máquina que não chegava para mais, que essa era a tecnologia da época em que as fotografias a cores ainda não eram assim tão comuns e que o meu pai fazia o melhor que podia e sabia quando captava, a preto e branco, os pinhais e as casinhas em pedra das Lages. quero crer as cores já existiam, mesmo que ainda não fosse possível fixá-las. que quando eu era pequena o mundo era a cores, sim, Luisinha, e que já continha todas as cores que existem em nós. do verde ora manso ora bravo do vento ao azul abaulado e turquesa do céu, do recorte acastanhado das serras ao rubor dos poentes, do ouro das searas de trigo magenta aos pomares em laranja e vermelho-maçã, da brisa lilás do crepúsculo ao brilho de prata das estrelas, o mundo já era a cores quando eu era pequena, sim, Luisinha e as fotografias de mim pequenina, que vês espalhadas em casa da avó e que me mostram apenas a preto e branco não dizem nada da minha infância nem a repetem como dela me lembro, com as casinhas de pedra das Lages assim, iluminadas por Deus, mesmo quando eu fugia, já nessa altura, para debaixo das sombras...
Lembro-me que o meu pai pintava (coloria) as fotos a preto e branco com uma tinta especial para o efeito.
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