estavam as duas preocupadas comigo. mais mansas do que é costume, sem exigências quase nenhumas, solícitas e oferecendo-me doses extra de mimos e beijinhos melosos.
coitadinha de ti, mãe
dizia a Luísa, ao mesmo tempo que me enchia de festas
essa conólostopia que vais fazer amanhã deve ser mesmo horrível!
em jejum desde a uma da tarde, quase não tive forças para rir. muito menos para a corrigir e aí talvez já não por falta de forças, mas porque adoro quando a Luísa inventa palavras. sosseguei-a.
não, Luisinha, não é horrível. a mãe vai estar a dormir e não vai sentir nada.
e foi assim que a conversa passou da conólostopia para o não sentir nada.
vão dar-te uma anestesia, não é, mãe?perguntou a Madalena.
sim, vão pôr a mãe a dormir e a mãe não vai sentir nada.
e como é que é? vai doer? já te deram alguma?
quis saber a Luísa.
já, Luisinha, já levei várias anestesias e não dói mesmo nadinha.
pois, para tirar os bebés da barriga é preciso estar muito anestesiada
opinou a Madalena.
pela enésima vez, expliquei-lhes que, em casos normais, as mães não levam anestesia nenhuma e os bebés saem pelo pipi, e não pela barriga.
mas, no caso da mãe,continuei, com paciência,
tiveram os quatro de sair da barriga por cesariana e por isso a mãe precisou de levar anestesia.
então estavas a dormir quando nascemos?
perguntou a Luísa.
também já lhes contei isto não sei quantas vezes, mas parecem esquecer-se.
quando foi da Francisca e do Lucas, sim, a mãe estava a dormir. mas com vocês as duas a mãe teve a sorte de poder estar acordada, porque a anestesia era só da barriga para baixo.
e tu viste tudo?
não, Luisinha, não vi quando cortaram, se é isso que queres saber... mas vi-vos assim que nasceram. eram tão queridas! mesmo pequenininhas... e pus-vos logo aqui, em cima do peito, para vos dar um beijinho.
riram-se as duas e foi então que veio à baila a história da sementinha.mãe, pode acontecer a minha sementinha já estar na tua barriga antes de o pai Pippo morrer?
não, filha, não pode.
porquê?
porque a tua sementinha é de outro pai, Madalena.
mas já podia lá estar e tu e o pai não saberem...
não, não podia...
ficámos as três em silêncio uns instantes e foi então que ela disse
mas no teu coração está desde sempre, não é, mãe?
e estão mesmo! no meu coração, desde sempre, está não só a sementinha da Madalena, mas a da Francisca, a do Lucas e a da Luísa. pressinto até que tenham chegado antes de os pais as terem vindo plantar no meu ventre e que nos tenhamos escolhido, para ser mãe e filhos, quando ainda só éramos estrelas.
com uma longa noite de jejum pela frente, mais frágil do que é costume e com a tal da conólostopia a querer visionar-me as entranhas, é deste amor visceral pelos quatro que também me alimento... hoje e sempre.
Lindo Inês
ResponderEliminarSer Mãe de quatro é maravilhoso
Sei do que falo
Quanto a amanhã, fico a pensar em ti enquanto mergulho no mundo da Bimby
Não pus de lado o querer conhecer-te a sério
Apenas o tempo me tem atropelado todos os dias...
Bj