eu sei que posso e também sei que ainda cedo. às desculpas e aos pretextos, ao nevoeiro e às circunstâncias, ao que é alheio e levo a peito, aos subterfúgios do meu ego, à voz da mente que transforma as emoções em armadilhas.
mas também sei, e também posso, diluir essa ilusão de pensar que estou num 'filme' onde o guião até parece que não é escrito por mim e por toda e cada vez que me demito de assumir o papel principal na minha vida.
passei anos e anos a dar protagonismo aos outros e a inventar para mim mesma que as suas imperfeições eram a causa de toda a minha infelicidade. ou que os momentos tão perfeitos que às vezes me proporcionavam eram motivo de alegrias. deixei-me formatar por mil padrões e resignei-me, tantas vezes, pelo facto de 'ser assim', como se 'ser assim' ficasse sempre aquém disso tudo que sei ser, exigindo a mudança a toda a gente à minha volta e negando o meu maior poder de todos, que é o de mudar-me a mim, mudar-me em mim e transcender-me ou, simplesmente, juntar numa só todas as que sinto ser e, em vez de 'ser assim' - a balançar entre elas todas - tornar-me finalmente inteira.
e leva tempo, eu sei que leva, como as marés e como a lua e como tudo, avança-se e recua-se, recua-se e avança-se, enche-se a mingua-se, esvazia-se e volta a encher-se, mas nunca, como agora, tive tanto a consciência de que a tristeza e a alegria não dependem de ninguém, porque ambas estão em mim e só eu posso 'accioná-las'. nunca, como agora, fui tão sábia em teorias e cada vez me culpo menos por nem sempre as pôr em prática - nem a maré está sempre cheia, nem a lua sempre intacta. nunca, como agora, me senti, ao mesmo tempo, tão assustada e tão tranquila...
sim, é muito assustador quando enfim realizamos que se acabaram as desculpas. que não há nada nem ninguém que tenha a culpa, que desejar que à nossa volta o mundo mude é só mais um pretexto para não mudarmos nada em nós, que esperar que os outros mudem é tão inútil como esperar que a chuva aqueça ou que o sol molhe.
e, por isso, e ao mesmo tempo, é tão tranquilo ter a certeza de que nada nem ninguém tem um poder maior que o meu. e que esta imensa solidão que vem à tona, quando nada nem ninguém pode fazer nada por mim, é só a mente a colocá-la no ângulo do ego carente. porque ninguém fica só quando se tem por companhia, ninguém é só quando se oferece, por inteiro, a si próprio e aos outros, ninguém pode mais dar como desculpa o facto de não 'ter' amor, porque amor é só para SER.
e eu sei que posso e sei que cedo. ainda cedo e ainda posso, sob o pretexto do medo, queixar-me que não 'tenho' amor. tudo muito assustador e tão tranquilo, ao mesmo tempo: ter a noção que, simplesmente, são desculpas e que só eu tenho o poder para as dissolver, sempre que vêm à tona.
Suspiro de ressonância*
ResponderEliminarAquele abraço e aquele beijo na Mandala do Coração*
É incrível o teu dom de pôr no papel, aquilo que nos "vai" na alma...
ResponderEliminarassim, podemos conversar e depois tu materializas o que ficou de importante...e o que já aprendemos e o que crescemos, passa para outros...e assim é a partilha...e assim estamos todos ligados...e o "livro" da consciência já está a ser escrito!
Fantástico Inês!
ResponderEliminarEu leio e me encontro...
Seu dom é divino com absoluta certeza. Abençoado seja!
Muitos beijos
Astrid Annabelle
Aprendemos a andar, falar, escrever, pensar. Aprendemos a sentir. O medo também se aprende, a ideia do que "nos faz felizes", ou infelizes. E, na melhor das hipóteses, passa-se metade da vida a "desaprender" as formatagens. Será possível, transmitir às crianças de hoje...e às futuras, a não dependência das falsas ideias? É bom libertarmo-nos das mentiras. Mas como adultos conscientes, não seremos participantes no mundo que nos rodeia? Alguém produz os alimentos, a roupa, as casas, os computadores que utilizamos. Cada um é só, mas vive na dependência real da vida e trabalho de outros. "Desformatagem activa?"
ResponderEliminarGosto tanto de te ler...Nem sequer sei se te percebo ou se concordo sempre;é sempre tudo posto em causa e por vezes é como se dissesse a mim própria: sim é isto, é por aí que vou e depois não vou e também fico em paz.
ResponderEliminaré exactamente o que me acontece a mim, Rosário :) escrevo e ponho tudo em causa e oiço-me a dizer 'sim é isto' e depois de escrito já não é. e umas vezes fico em paz. e outras menos :)
ResponderEliminarbjs
Gostei ...
ResponderEliminarÉ verdade passamos a vida a inventar desculpas para tudo. Mas para que?