se é, de facto, sempre de nós que falamos quando falamos de e para os outros, ao dizermos, seja a quem for,
'tu não me aceitas como eu sou'
não estaremos, no fundo, a dizer
eu não me aceito como EU sou?
mais um dia de sol. mais um dia mergulhando na sombra - e talvez mais logo no mar. e hoje acordei a pensar como posso eu não me aceitar como sou? não será antes 'eu não me aceito como eu NÃO sou'? e não me aceito como não sou, porque me falta aceitar que sou tudo - sobretudo aquilo que não gosto de ser. porque não quero descobrir - e muito menos quero que os outros descubram - o que nunca quis que se conhecesse de mim, o que aprendi a esconder, o que ainda me dói assumir que vive cá dentro, na sombra.
e, no entanto, o que eu não quero ser também é o que eu sou. o que eu passo a vida a esconder é, afinal, o que eu projecto no outro, quando o acuso de não me aceitar como eu sou.
e o falso alívio que me vem desta crença atenua-me a dor: não tenho de fazer nada, de mudar nada em mim, de revolver as entranhas em busca de feridas abertas, de descobrir o que nunca quis ser, porque quem fica com a 'batata quente' nas mãos é o outro, que não me aceita. 'azar o dele', penso eu, e chego a ficar satisfeita - aparentemente -, quando delego a incapacidade da aceitação fora de mim.
só mostrando a mim mesma onde é que me posso aceitar a ser tudo - sem vergonha e sem culpa e sem medo - deixará de ser importante se os outros me aceitam ou não. só assumindo que também sou o que tanto me esforço por não querer ser, serei capaz de resgatar a minha totalidade. e mesmo que tudo seja - só e ainda - um exercício mental, uma das muitas teorias tão sábias que, como diz a minha filha Francisca, não sei pôr em prática, também não vou mais culpar-me por isso. aceito que, por enquanto, é isso que eu também sou: uma 'teórica iluminada' com certas dificuldades de ordem prática.
Sem comentários:
Enviar um comentário