há uma hipótese de a história, afinal, não ser a que sempre contei. de haver um equívoco quando acredito que tu morreste e que eu fiquei viva. ou seja, há uma estranha premonição de poder ser precisamente o inverso :: e que eu tenha morrido no exacto momento em que tu, finalmente, vivias. ou então não são mais do que as suposições do costume, neste dia 29 de Junho, doze anos depois de um camião destravado te ter conduzido a um plano distinto do que acreditávamos ter traçado para nós,
as coisas em que acreditamos, já viste?
as suposições que fazemos, os equívocos em que todos caímos quando insistimos em pôr a vida e a morte em planos diferentes. mas é assim que nós somos, humanos e contraditórios, embora seguros - lá no fundo - de que a nossa essência emerge da luz e se funde com as origens do cosmos, de sempre e para sempre, mas aparentemente incapazes de moldar a matéria perene ao brilho eterno das estrelas
as suposições que fazemos, os equívocos em que todos caímos quando insistimos em pôr a vida e a morte em planos diferentes. mas é assim que nós somos, humanos e contraditórios, embora seguros - lá no fundo - de que a nossa essência emerge da luz e se funde com as origens do cosmos, de sempre e para sempre, mas aparentemente incapazes de moldar a matéria perene ao brilho eterno das estrelas
e então tu chegas e dizes
o que é que para ti distingue a vida de um morto da vida de um vivo?
e eu fico em silêncio, fico em silêncio porque só em silêncio é possível ouvir-te, sentir-te, intuir o que sopras e que não é mais traduzível na língua dos homens.
e então tu chegas e sopras
é o amor que distingue a vida de um morto da vida de um vivo.
mas sou sempre eu que traduzo, porque preciso da língua dos homens para alimentar mais equívocos, preciso da língua dos homens para tecer as minhas próprias suposições, para equacionar todas as estranhas hipóteses com que me confronto, preciso que continues soprar para aceder ao plano amoroso e divino que,
e concordo contigo,
é o que distingue a vida de um vivo da vida de um morto.
e concordo contigo,
é o que distingue a vida de um vivo da vida de um morto.
e então há doze anos que conto esta história na língua dos homens, há doze anos que escrevo que um camião destravado te atropelou brutalmente num dia de verão em que o sol estava a pique, há doze anos que digo, para falar deste dia, e vá lá que nunca mais com ar de 'coitada' ou a voz arrastada da vitimizada, 'o dia em que o Pippo morreu', há doze anos que ocupas a orla das portas e que te insinuas entre as buganvílias e que me sopras
VIVE!
e eu querendo apenas que morra tudo o que não for amor
VIVE!
e eu querendo apenas que morra tudo o que não for amor
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