disse ele.
'escolhas', repetiu ela, e mastigou a palavra debaixo da língua.
ora aí está uma coisa que nunca gostei de fazer
observou, desta vez em voz alta, mas só para si mesma.
o anfiteatro dava para um amplo pátio cheio de árvores e ela estava sentada ao pé da janela. fazia calor. ele falava, falava, falava, a aula era aberta e havia mais gente a assistir e até quem, afincadamente, tomasse nota do que ele ia dizendo.
no fundo
dizia ele
é tudo uma questão de saber como se quer atravessar o inferno: sozinhos ou acompanhados?
agarrou na pergunta, moeu-a, mordeu-a, depois fê-la a si própria
acompanhada ou sozinha?
escreveu
'prós e contras'
na folha de linhas.
sozinha não tinha a quem se agarrar. acompanhada, o inferno seria a dobrar.
ele repetiu
há que escolher.
mas não escolheu e escreveu
'foda-se'
não sabia sequer se era um pró ou se um contra, isso agora não lhe interessava, ele continuava a falar sobre a necessidade das escolhas, como se balançar entre dois lados não fosse exequível nem desejável
às tantas, enjoa
disse ele
e ela escreveu
'vomitar'
quando a aula acabou, ele ditou os trabalhos de casa: fazer escolhas
fosse lá isso o que fosse
era a tarefa pedida.
agarrou na folha e saiu: felizmente, escrevera tudo a x-acto.
foda-se :)
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