segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

S. Valentim



reza a história que, durante o reinado do imperador Claudio II, este proibiu a realização de casamentos, com o intuito de conseguir criar um exército. achava ele que, ficando solteiros, os jovens guerreiros se alistariam mais facilmente do que se tivessem à sua espera um lar doce lar e uma família. mesmo assim, o bom Valentim, que na altura era bispo do Império Romano, continuou a abençoar, às escondidas, o enlace dos noivos. descoberto o seu 'crime', o bispo foi preso e condenado à morte. durante esses dias de calabouço, eram muitos os jovens que lhe enviavam flores e bilhetes, onde diziam ainda acreditar no amor. entre as pessoas que mandavam missivas a Valentim, estava uma jovem e cega donzela. Asterias era filha de um dos carcereiros e conseguiu, por isso, permissão para visitar Valentim. foi tão grande o amor que, reza a história, Asterias recuperou a visão.  Valentim, esse, acabou decapitado, não sem antes ter escrito à sua amada uma última carta de amor, despedindo-se como 'seu Valentim'.

não sei o que diria o bom do S. Valentim ao ver o seu nome tornado pretexto para todos os tipos de marketing, mas não duvido de que não se importasse de se saber padroeiro do dia dos namorados. 'fetiches' à parte, sempre me irritaram um pouco os dias disto e daquilo e o dos namorados não é nenhuma excepção. que me lembre, recebi um dia um ramo de rosas vermelhas, no tal dia de S. Valentim - e, sim, soube-me bem e gostei - mas há mais trezentos e sessenta e quatro dias no ano que são tão bons ou melhores para nos namorarmos.

o que me deixa - de novo - perante a eterna questão do amor  no quotidiano e desta busca em que todos andamos, mais iludidos ou menos... é que chamamos 'amor' a uma série de coisas diferentes e, perdidos na ânsia de o ter, esquecemo-nos de que já o somos. ah, teorias tão boas, tão certas, todas tão justas e lúcidas! eu própria já aqui escrevi sobre o amor tantas vezes. não foi? posso até parecer muito sábia, na maior parte das vezes, mas esquivo-me e fujo, como o diabo da cruz, à minha essência de amor, sempre que vibro na frequência do medo. medo do quê? de confiar, de entregar, de render-me. 

o blá blá blá da lei da atracção, sem cair em excessos nem fatalismos, diz-nos que só atraímos aquilo que emanamos. mas não dá jeito nenhum acreditar que isso é mesmo verdade quando nos sai um marido ou um namorado que, por exemplo, nos bate. cada um saberá dos seus mecanismos, das suas sombras, medos, carências, mas só podemos atrair violência quando ela, de alguma forma, também existe dentro de nós. fodido, fodido, é que, na maior parte das vezes, agimos em automático e seguimos padrões que não conseguimos tornar conscientes. as desculpas são boas e apaziguam vazios, mas - e também já aqui o escrevi uma vez - não há pretextos que valham para continuarmos a pôr as 'culpas' nos outros. 

com Saturno em Balança, não há dúvida de que as relações - sejam elas quais forem - têm sido postas à prova. mas, atenção, não é o amor que está sujeito às pressões de Saturno. como todos tão bem sabemos, e todos tão confortavelmente esquecemos, o amor não carece de regras, estruturas, concessões ou cartilhas. é só quando o embrulhamos em sonhos de S. Valentim que acabamos por nos trair a nós próprios. e é fodido, mais uma vez, é fodido! ter consciência de que o que vai mal nas relações que mantemos está apenas espelhando o que vai mal em nós. 
a boa notícia é que somos, constantemente, seres em mudança e temos este enorme poder de, se realmente quisermos, perceber de onde é que emanamos o que atraímos. e mudar de frequência - o que pode não ser sinónimo de mudar de marido, de namorada, de companheiro. ou sim e, nesse caso, romper sem medo e sem dramas. e tornar consciente que, se o padrão lá ficar, faremos exactamente a mesma viagem da próxima vez.

amor, sim. palavra tão gasta que às vezes chega a parecer-me despropositado usar-se assim, por tudo e por nada. mas lá que é um grande milagre, disso tenho a certeza! pena que nem todos sejamos - para já - santos o suficiente para o sabermos fazer, descobrindo, sem nenhuma margem para dúvidas, que  essa é a nossa essência.

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