quarta-feira, 6 de julho de 2011

hoje escolho não deixar para amanhã


ontem, a vida abanou-me, que bom!... na prática, isso significou confrontar-me com as consequências de situações - muito concretas - que andava a adiar há que tempos. há que tempos que andava a somar uma dívida à Segurança Social. pesava-me e, sempre que me aparecia, ainda que só mentalmente, um valor superior ao do dia anterior, fazia a coisa aparentemente mais simples: empurrava-a para o dia seguinte, para não ter de fazer nada AGORA. passei dois anos assim.
há que tempos também que a Madalena se andava a queixar de uma cárie num dente. mas não era a mim que doía e, como também a ela não lhe doía por aí além, fui adiando a ida ao dentista.
ontem, o senhor dos correios chegou com o papelinho da minha dívida à Segurança Social e já não era uma soma mental, mas um número real - e gigantesco! - que vou ter de pagar. podia adiar? claro que podia! arrumava o papelinho numa gaveta - coisa que costumo fazer, aliás, não só aos papelinhos incómodos mas a outros assuntos - e continuaria a somar mentalmente a minha dívida e a sentir aquele peso das coisas que ficam pendentes, à espera do dia em que vamos, então, resolvê-las.
ontem, a Madalena foi ao dentista. a cárie já era tão grande que se pôs a possibilidade de desvitalizar aquele dente. fiquei a olhar para ela enquanto a dentista escarafunchava no nervo - e ela, valente!, sem dizer um ai - e eu a escarafunchar-me na culpa de não a ter levado ao dentista mais cedo.
depois percebi, felizmente, que escarafunchar-me era inútil. a culpa doía, mas não resolvia. a culpa nunca resolve as coisas para trás, mas é o sinal mais abençoado com que a vida nos pode brindar, se a aproveitarmos para agir no momento em que surje e dali para a frente, em vez de a usarmos como desculpa, pelo que não fomos capazes de fazer lá para trás.
e então hoje lá fui eu para a Segurança Social. uma só funcionária e quarenta e cinco pessoas à minha frente fizeram com que me apetecesse voltar a deixar para amanhã. mas amanhã é possível que só lá esteja a mesma funcionária e que à minha frente estejam sessenta e nove pessoas. há outra maneira de resolver o assunto? sim, e já estou a fazê-lo. AGORA! e há mais alguma coisa pendente que HOJE possa fazer? sim, e já estou a fazê-la. mas podia - podia! - continuar a dormir e a pensar 'amanhã já acordo'? podia, mas HOJE quero estar acordada.
e vejo o logro que é quando acreditamos que é doloroso acordar. vejo o desperdício que é o AGORA quando apenas nos serve para deixar para DEPOIS. sinto o alívio que é, neste momento, saber que já não estou a pagar, mensalmente, 160€ à Segurança Social. o alívio que é a Madalena já não ter um buraco no dente...
'acordar' não é esse feito espiritual de nos tornarmos 'iluminados' à custa de mantras, meditações e velinhas acesas e um dia sermos capazes de realizar grandes proezas. acordar é AGORA. e AGORA escolho não deixar para DEPOIS, tudo o que AGORA quero e posso fazer.
e estou muit'a contente e não me dói nada, afinal.

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