quinta-feira, 14 de julho de 2011

de rabo na boca

- what is love?
- the total absence of fear, said the Master.

- what is it we fear?
- love, said the Master.


Anthony de Mello



se o amor é a total ausência de medo e se aquilo de que temos medo é do amor... somos pescadinhas de rabo na boca. e, não, não quero que me expliquem como saímos daqui. como tiramos o rabo da boca, como deixamos de andar encolhidos, em círculos, de que forma podemos deixar de ter medo ou qual é o segredo para sermos, na sua ausência total, apenas amor. e não quero porque não há explicações, não há receitas, não há teorias, não há sequer uma fórmula que possamos usar para ter a experiência de uma total ausência de medo. 
a 'espiritualidade lindinha', à qual tanto nos agarramos - eu incluída -, na esperança de nos iluminarmos, não é mais do que um logro. a ponta branca e brilhante de um iceberg que esconde no fundo a solidão e a solidez do seu gelo. não sei se teremos, alguma vez, a possibilidade, enquanto humanos, de derreter este congelamento mortal, em que assentam dores, padrões e memórias. isso significaria, afinal, abdicarmos também da ponta branca e brilhante do iceberg, de onde avistamos o sol. 
também não posso pedir a ninguém que me ame, para eu deixar, enfim, de ter medo. não posso ter medo de amar, se quiser ter a experiência imortal de quem sou. de pouco ou nada me servem as teorias iluminadas dos outros - a não ser quando quero que, na minha ponta branca e brilhante, os outros vejam como sou 'boa aluna', tão amorosa e tão bem resolvida e tão sábia e assim. 
é no gelo lá do fundo, é na solidão da penumbra, na base compacta dos nossos padrões, das nossas dores e das nossas memórias que reside o tesouro. quando o medo derrete e deixa de haver sustentação para uma ponta fictícia, ficamos gasosos. e talvez isso seja, então, o amor. a ausência de forma, a liberdade do vento, o sopro de cosmos. mas há que liquefazer tanta coisa que - todos nós - mantemos o rabo na boca e continuamos às voltas, às voltas, às voltas... mantemos a nossa ponta branca e brilhante à tona da água e, gelados, ficamos presos ao fundo do fundo.

1 comentário:

  1. cada ser humano, um tesouro enterrado,
    apenas eu sei o segredo para o meu tesouro,
    apenas tu sabes o caminho para o teu coracao,
    tudo o resto: areia, agua, vento, luz e espaço,
    procurei e procurei sem ver que sempre esteve comigo, que sempre o fui,
    e depois da dor, a areia, a agua, o vento, a luz e o espaço sao o meu tesouro, o meu sonho, e tudo recomeça, a mandala nao para.
    silêncio.

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