terça-feira, 7 de dezembro de 2010

relationships status

é assim um bocadinho à laia de restaurante. pede-se a lista e tem lá uma série de hipóteses e consoante o apetite, a carteira ou outra coisa qualquer escolhe-se o 'prato'. mesmo tendo em consideração que podem sempre existir imprevistos, é pouco provável escolher um bife e aparecer um peixe grelhado, ou pedir uma lasanha e ser-se presenteado com um bacalhau à moda da casa. e por isso é tão útil, às vezes, chamarmos nomes às coisas e saber que os nomes das coisas se referem às próprias coisas e não a outras coisas, às quais chamamos nomes diferentes. mesmo assim, pode sempre acontecer pedirmos um bife e vir um bife - porque bife é sempre o nome que chamamos à coisa bife - e ele não ser, afinal, o 'nosso' bife, ou seja, o nome bife não corresponder à 'coisa' que imaginámos como sendo um bife. fácil de perceber que, se imaginamos um bife do lombo tenro e suculento e nos aparece um bitoque mais tipo sola de sapato nervoso, ficamos perante o dilema de, afinal, o mesmo nome servir para duas coisas completamente diferentes, mesmo que as duas se chamem 'bife'.

ontem, ali às voltas no FakeBook, diverti-me a mudar o relationship status uma data de vezes, nem sequer para constatar que, seja nas relações, seja nos restaurantes, seja noutro contexto qualquer, o facto de existirem 'listas' não nos garante que os nomes que chamamos às coisas correspondam, de facto, às coisas a que chamamos os nomes. ou, então, os nomes trazem atrás tantas crenças - e muitas tão infundadas - que, quando os aplicamos às coisas, todas elas ficam aquém  ou para além do que julgamos estar a chamar-lhes.
a verdade é que, ao darmos nomes às coisas, 'colamos-lhes' uma série de outras palavras, de outras permissas, de outros conceitos e preconceitos - e de sei lá mais o quê! - que, achamos, fazem parte da mesma 'família'. 'casamento', por exemplo,  pode ser da mesma família de 'fidelidade'. ou de 'felicidade'. ou de 'família'. ou de milhares de outras coisas. e, tal como na história dos bifes, se 'pedimos'  ou imaginamos um casamento porque é da família da felicidade e nos calha, afinal, uma desgraçeira de uma infelicidade... sentimo-nos atraiçoados por tudo o que esse nome não trouxe para dentro da nossa 'coisa' - neste caso, do nosso casamento.
 
isto tudo, então, para concluir que é um despropósito esta coisa dos status, das listas, das crenças, dos conceitos e preconceitos, das definições de que nos vamos munindo, como se clarificassem as coisas. de certa forma, descubro que, quanto mais palavras usamos, mais dificilmente conseguimos ser livres - o que não abona nada em favor de uma escritora, pois é...  mas se 'no princípio era o Verbo e o Verbo era Deus e no princípio ele estava com Deus', agora ele anda na boca dos homens e traz tanta coisa atrelada que depurar o sentido original desse verbo que estava com Deus se tornou praticamente impossível. e então chamamos às coisas nomes que elas são mas não são e os mesmos nomes servem para milhares de coisas diferentes e assim há-de continuar a ser, até ao dia em que o Verbo volte a ser Deus - e que se calhar não é mais do que todos falarmos, de novo, a língua comum do Amor.
 
(e se calhar ficou um bocado confuso, mas hoje apetece-me assim...)

2 comentários:

  1. Deve ser por isso que a palavra MULHER carece sempre de complemento: irmã, mãe, filha, puta, ... de. Homem é homem. É ser inteiro, íntegro. Basta-se. Pandora veio ao mundo para castigar o atrevimento de Prometeu. Para um dia falarmos a língua comum do amor, não será necessário encontrarmos, nós, mulheres, a nossa forma de ser inteira, íntegra, sem medo de perdermos o espelho/referência?

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  2. Eu sempre me perguntei como seria não chamar de árvore o que conhecemos como árvore...muito louco isso!!!
    Eu adorei essa sua "confusão"...ótima!
    Estou lendo todos os seus posts e me encantando.
    Beijos
    Astrid Annabelle

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