quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

retrógrados andamos todos


não é só o Mercúrio a fazer meia volta volver e a assombrar os mais temerosos com irregularidades nas comunicações, estragos nos electrodomésticos, excessos nos gastos e nos consumos, esqueci- mentos, atrasos, confusões e balbúrdias a cada virar de esquina, pinheiro ou presépio. basta olharmos para o mundo, nem sequer com muita atenção, para perceber que este movimento retrógrado não é exclusivo dos astros, mas que, aqui e ali, nos toca a todos. 

onde foi que fizémos meia volta volver e arrepiámos caminho não sei bem dizer. se foi quando a crise nos bateu à porta - embora há anos estivesse do lado de dentro de cada um a espreitar tudo aquilo que teimámos esconder, disfarçar, iludir, corromper - ou apenas quando, sem cerimónia, nos entrou pela casa adentro e se instalou na miséria que a lamúria alimenta e o queixume mantém. mas lá que andamos todos retrógrados, disso não tenho uma dúvida! e não é fatalmente mau, sobretudo se estivermos a tomar balanço para, quando voltarmos, como Mercúrio, a estar directos, atinarmos com a rota que nos espera e que não é a direito, que o direito dá sempre para o torto e todos sabemos. quando entrarmos directos no dia novo - que pode ser um dia qualquer, sendo sempre o mais indicado e o mais propício o dia de hoje, pois só hoje e agora se pode realmente fazer o que há para fazer - descobriremos que o movimento é ascendente e circular ao mesmo tempo e que nos cura de dentro para fora, em vez de nos fazer continuar a sonhar que de fora virá o que há-de curar-nos por dentro.
pois é, quando entrarmos directos no dia novo e, bem acordados, esfregarmos os olhos e percebermos que sonhar só é útil se for com os olhos abertos, vamo-nos rir do tanto tempo que andámos retrógrados, quiça à espera que o mundo virasse, melhorasse, mudasse para nos dar outro alento, outro rumo, e sem perceber que rumo e alento é cada um que  os dá ao mundo, quando se propõe ser a mudança que quer ver nele.

8 comentários:

  1. Ufa! Tenho passado a(s) semana(s) a dizer que ando saturada de gente que só se queixa do que tinha e que já não tem, de que o passado é que era bom, e não me apetece mesmo nada ouvir gente a viver e a alimentar-se de melancolia...

    Precisamos movimentar-nos para a frente, e termos a ousadia de procurar coisas novas e oportunidades...

    Enfim, talvez seja mesmo necessário bater-se no fundo para tentar olhar para cima e ver a luz no fundo do poço...

    Que sejamos de uma vez e nos deixemos de tretas e lamúrias!

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  2. Olá Inês!
    Estava sentindo falta das suas palavras...é vero!!!
    Você reafirma no seu texto o que sinto. Para uma situação nova é necessário uma faxina grande para se livrar do velho e com isso permitir que o novo possa realmente ser novo!
    Excelente!
    Partilhei no FB
    Beijos
    Astrid Annabelle

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  3. Astrid, querida

    bom vê-la por aqui :)
    e grata pela partilha.

    beijo no ♥

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  4. Ser mudança é só ser. Ser mudança é despir-se de conceitos e mitos (estes nunca são inocentes, ao contrário das crianças). É aceitar-se na diferença sem referências ou mestres e poder ser só, sem medo. O milagre faz-se. A partilha torna-se real. O movimento deixa de ser retrógrado ou directo, é.
    Obrigada por originar estes momentos de partilha

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  5. exactamente, Antónia :)

    é :) é-se :) e o milagre faz-se.

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  6. «mas lá que andamos todos retrógrados»

    Eu, desde logo, ando retrógrado. Não consigo atinar com o tempo e quanto menos atino, menos me sobra capacidade de atinar.

    Já não será do meu tempo, mas a Inês ainda terá oportunidade de ver o velho a ser substituído pelo novo. Oxalá assista a isso. Agora, é a transição e ninguém se entende (governos, responsáveis). Andam aturdidos, mas fazem aquele ar de quem sabe o que está a fazer. E nós, os povos, imitamos.

    Imagine-se, se até o Papa não teve outro remédio e lá aceitou os preservativos... Não é mesmo o descambo total!!! (brincando, claro).

    Se até o 'povo menos povão' consegue perceber certas coisas muito complicadas como a pobreza, a fome, a miséria, as guerras. 'tamos a melhorar.

    Tenho uma dúvida existencial: actualmente, as mulheres que escrevem poesia, não gostam de ser chamadas de 'poetisas' e dizem que são 'poetas'. Como será no dia em que houver mulheres 'padres'? Vontade de perderem o género?

    Vou partilhar.

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  7. Espero que sejam suficientemente lúcidas para nunca o virem a ser. Deixá-los ser os únicos mestres de uma religião que utiliza, sem conhecimento/desejo/consentimento prèvio, a mãe, (pura por não conhecer o prazer), daquele cujo nascimento se comemora com grande pompa e amor todos os 25 de Dezembro. O único prazer que lhe é permitido é o de ter sido a escolhida. Uma mulher padre desta religião seria o veículo da negação voluntária de si

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