terça-feira, 28 de junho de 2011

difícil, eu sei

ali está a sombra, enorme, voraz, de frente para nós, sabemos que é nossa, mas é tão mais fácil continuar a 'atirá-la' para cima do outro! muito mais simples fazermos de conta que não saiu das nossas entranhas, que não é a nós que se quer revelar, que não é para nós que se exibe, que não é em nós que sangra e que apodrece e nos contamina, nem sabemos dizer há já quanto tempo. 

tão difícil, eu sei, o ruído cá dentro a ser ensurdecedor e, de imediato, o projectamos para fora. a sombra a gritar-nos cá dentro e nós exigindo que os outros se calem. a sombra a tirar-nos a nossa energia, e nós apontando o dedo a quem a dispersa. a sombra, intimidando-nos com o seu imenso poder, e nós tentando justificar as razões por que se intimidam os outros. a sombra a dizer-nos
'sou o teu ego ferido' 
e nós a escarafunchar nas feridas dos outros, para ver se dói menos. a sombra a pedir-nos carinho, atenção, e nós a morrer de pavor de que nos roube o coração. a sombra a querer fazer as pazes connosco e nós sem ceder, alimentando esta guerra vezes sem conta.

difícil, eu sei. olhar para ti e descobrir que sou eu que ali estou. muito mais fácil olhar para mim e negar que sou como tu. muito mais fácil olhar sempre para aquilo que nos separa uns dos outros e tão poucas vezes para tudo aquilo que nos une, sobretudo quando é a sombra aquilo que nos torna iguais uns aos outros.

difícil, estar realmente disposto a ser implacável, estar realmente seguro de que vale a pena ficar frente a frente com as nossas sombras, ter a coragem de reformular todas as acusações, agora na primeira pessoa, de re-conjugar todas as dores no presente, de acreditar que há uma paz imensa na sombra, de cada vez que irrompe das trevas e que ilumina mais um aposento do nosso castelo. 


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