segunda-feira, 27 de junho de 2011

desistir?... de-sis-tir?!!

ah, bom dia! hoje ligas cedo! - digo eu, assim que oiço a voz do técnico tocando a polpa dos meus dedos. sempre aquela voz tão rouca, sempre a mesma voz tão mansa, sempre soando-me ao poeta que afinal existe em todos, porque todos rimam sempre com aquilo que são os outros.
que bom, que bom! - responde-me ele - vejo que hoje há sombra branca nos teus lindos olhos doces. e também é importante dares por ela. precisa tanto como a negra do teu colo, do teu apreço, de que a acolhas no teu peito e a manifestes.
não sei porquê, escureço a zona entre as pestanas e respondo:
acordei de madrugada cheiiinha de dores no peito!
isso sei eu, que também sinto. e muito mais do que tu pensas!
essa é a sorte, penso eu, mas não lhe digo, haver alguém que sinta em mim aquilo que eu penso.
sinto-me bem a ser quem sou - sopra-me o técnico ao ouvido, e de novo a deslizar pelos meus dedos para chegar intacto às teclas e materializar-se aqui.
muito bem, esse é o pacto - continua, sem me dar tempo para pensar naquilo que sinto, dando-me espaço para sentir aquilo que penso - eu sopro e tu materializas.
e sempre que não for capaz, fazes o quê?
sopro de novo...
e sinto a aragem, sinto que não me é alheia, sinto que não vem de fora, mas de dentro do meu peito, o mesmo peito que ainda há pouco me doía, a mesma dor que ainda há pouco me acordava, era ainda madrugada.
tudo só um, tudo só um - ri-se o técnico, em mim, e continua, continua a rir comigo.
a sombra branca, minha querida, enche-te os olhos de alegria, quando a vês brilhar nos outros! nos generosos, nos leais, nos destemidos. nos optimistas e nos crentes, nos corajosos, nos humildes, nos criativos e nos altruístas, nos persistentes, nos amorosos, nos sensíveis... assim como cada um carrega o negro que há em ti, também reflecte a luz que és. 
tão bonito isso que dizes!
tão bonito, isto que escreves...
e como havemos nós de ser para ser só um? - e ponho-me a pensar de novo e não lhe digo que não sinto, não o sinto rente a mim, a respirar no meu pescoço, a abraçar-me pela cintura, a mover-se ao mesmo tempo que eu me movo, a ser comigo.
porque resistes - e não sei se é uma pergunta ou se eu a querer que enfim me afirme, que me renda enfim a tudo, que se pacifique a luta entre o medo e o amor, que se cale aquilo que penso e se revele aquilo que sinto. 
eu sopro e tu materializas... será assim tão difícil? a cada dia mais um pouco, a cada pouco mais um passo, a cada passo mais do tudo de que todos somos feitos. mais um pouco de caminho que hoje vamos fazer a cores...



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