domingo, 19 de junho de 2011

dá-me a mão

e levo-te aos lugares de ti que, com o tempo, foste deixando ao abandono. não tenhas medo, prometo que não te largo, não te deixo um só segundo e, à medida que fores ganhando a coragem de espreitar cada um dos teus abismos, aperto-a com mais força ainda. é pequenina, eu sei, mas cabe tão bem na minha... podes debruçar-te a ponto de sentires vertigens, estou aqui. podes até ousar cair. e, nesse caso, cairemos de mãos dadas. ou então, se estiveres com muito medo, pede-me colo. assim, vês, pões-me os braços à volta do pescoço e enlaço os meus à tua volta, temos as duas muita sorte: tu, por seres ainda pequenina e caberes inteira em mim, e eu por já ter crescido e ser capaz de te dar colo. anda. podemos começar devagarinho. eu dou o primeiro passo... tu dás o primeiro passo. por onde queres começar? talvez pelos lugares que estão fechados há mais tempo? consegues levar-me lá? se quiseres, podemos ir cantando à medida que avançamos... isso mesmo. as canções espantam os medos e somos bem capazes de fazer um belo dueto, tu e eu, mas não é obrigatório e, se preferires, podemos seguir antes em silêncio. ou então podes chorar. podes rir, podes gritar, espernear, o que quiseres, eu estou aqui. vamos ao lugar dos mortos, queres? vamos ao lugar da espera, ainda te lembras? durante quanto tempo alimentaste a chegada de quem afinal não chegou a vir com vida conhecer-te? e como podias tu saber, naquela altura, que não foi para te privar de companhia que aquilo tudo aconteceu? vamos entrar, queres? abro as janelas para que vejas que a escuridão só existe no teu peito e que não há, afinal, nenhum lugar onde te engula. abro o teu peito para que sintas como a luz jorra límpida e talvez compreendas o que na altura não sabias: que a espera foi criada para que um dia regressasses a ti mesma e, juntas, como agora, pudessemos celebrar esse regresso de mãos dadas... e então podemos ficar aqui o tempo que for necessário...

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