hoje voltei a lembrar-me. já noutro dia me tinha lembrado, quando cheguei ao ar livre e me cheirou a terra molhada. e precisei de tocá-la, porque só o cheiro não chegava, tinha de tê-lo colado aos meus dedos, apeteceu-me esfregar a cara, o corpo, a pele toda, queria que tudo tivesse a textura da terra, como daquela vez na cabana, em que suei e gemi de encontro ao seu ventre.
ando a revolver as águas maternas, talvez seja por isso que choro
ultimamente tenho chorado
tem chovido e o cheiro da terra devolve-me ao útero, reconduz-me às entranhas, aos lagos fecundos e femininos do corpo, às dores ancestrais das mulheres, à gestação dos afectos, à humidade do mundo.
mães. é disso que tenho andado a tratar e, neste momento, tenho uma a queixar-se, uma mãe de papel que se queixa da ausência do pai, da ausência dos pais, como se assim só fosse metade.
metade de mãe.
levará o seu tempo até que descubra onde é que se parte, pode até ser que nunca descubra, ainda não sei.
chove e a terra traz-me a promessa: não há nada que me separe. e volto ao colo que me dá, de cada vez que me rendo. volto a lembrar-me de tudo, até sem saber o que é tudo. das viagens que faço de olhos fechados, do embalo das marés, da vulnerabilidade das aves, da orfandade dos anjos, coisas que invento, talvez seja disso que constantemente me lembro.
voltei a lembrar-me de mim, de me terem rasgado as entranhas, dos hinos de espanto e louvor que vieram dar ao meu colo, de as cicatrizes, umas por cima das outras, serem a prova inquívoca de que as dores saram.
voltei a lembrar-me de todas as mães que já tive. das mães todas que tenho.
heranças, memórias, paisagens, pinhais e tenho uma mãe que plantou um no campo, manso como convém a quem procura um abrigo debaixo da copa das árvores, mais uma mãe de papel expiando o contágio da carne, nunca sei se é na ficção que imito a realidade ou se é com a vida que atiro para cima das minhas mães de papel, para que me aliviem da carga.
não sei, mas voltei a lembrar-me.
naquele dia, voltei a lembrar-me e hoje, mais uma vez, a chuva promete voltar e molhar tudo em volta: a relva, as memórias, as pálpebras. há uma série de coisas que me atravessam a alma quando verto palavras, quando quero converter o que sinto na escrita, há sempre uma parte que falta, um lugar indizível ao qual as palavras não têm acesso, um intervalo entre a voz e o peito. averiguar a verdade é inútil, portanto. é inútil esquecer-me de tudo e foi disso mesmo que hoje voltei a lembrar-me.
metade de mãe.
levará o seu tempo até que descubra onde é que se parte, pode até ser que nunca descubra, ainda não sei.
chove e a terra traz-me a promessa: não há nada que me separe. e volto ao colo que me dá, de cada vez que me rendo. volto a lembrar-me de tudo, até sem saber o que é tudo. das viagens que faço de olhos fechados, do embalo das marés, da vulnerabilidade das aves, da orfandade dos anjos, coisas que invento, talvez seja disso que constantemente me lembro.
voltei a lembrar-me de mim, de me terem rasgado as entranhas, dos hinos de espanto e louvor que vieram dar ao meu colo, de as cicatrizes, umas por cima das outras, serem a prova inquívoca de que as dores saram.
voltei a lembrar-me de todas as mães que já tive. das mães todas que tenho.
heranças, memórias, paisagens, pinhais e tenho uma mãe que plantou um no campo, manso como convém a quem procura um abrigo debaixo da copa das árvores, mais uma mãe de papel expiando o contágio da carne, nunca sei se é na ficção que imito a realidade ou se é com a vida que atiro para cima das minhas mães de papel, para que me aliviem da carga.
não sei, mas voltei a lembrar-me.
naquele dia, voltei a lembrar-me e hoje, mais uma vez, a chuva promete voltar e molhar tudo em volta: a relva, as memórias, as pálpebras. há uma série de coisas que me atravessam a alma quando verto palavras, quando quero converter o que sinto na escrita, há sempre uma parte que falta, um lugar indizível ao qual as palavras não têm acesso, um intervalo entre a voz e o peito. averiguar a verdade é inútil, portanto. é inútil esquecer-me de tudo e foi disso mesmo que hoje voltei a lembrar-me.
adorei, Inês.
ResponderEliminarNão tem mal chorares...lavas a tua alma e limpas o teu ser. Depois sentes-te melhor. Como que alguém te ajudou a levar o teu turbilhão interior.. chorando contigo, noutro plano. São os teus anjos, porque tu tens mais do que um.
bjos
Olá Inês,
ResponderEliminargostei muito desta imagem, foi você quem tirou a foto?
estou fazendo um site para uma amiga de uma clínica de terapias holísticas e queria usar esta imagem como plano de fundo, você tem como me mandá-la em uma resolução mais alta?
muito obrigado