sábado, 2 de outubro de 2010

os dias da sombra


este chega directamente daqui

parei hoje um pouco para pensar em tudo o que já escrevi e, sobretudo, em tudo o que já publiquei. nove livros ao todo, um muito antigo (tinha 16 anos), outro há mais de uma década, os sete restantes ao longo dos últimos três anos.
parei também para sentir que, à minha volta, quase todos perseguem o mesmo: a paz interior, a luz ao fundo do túnel, a consciência de que não viemos à toa percorrer caminhos sem rumo, o encontro de cada um consigo próprio e com os outros, o tal amor incondicional no qual todos desejamos fluir.
trajectos que, tantas vezes, espelham acima de tudo os momentos mais bem conseguidos, ou tudo aquilo que ressoa pelo lado do brilho. basta-me dar uma volta aqui pelo FB para reparar como são tantos - eu própria incluída - os que inundam os seus murais com links ou citações de gurus e de outros 'mestres iluminados', ou mesmo com frases da sua autoria, e em que a mensagem é sempre 'boa'.
tudo isto para chegar onde?...
que andamos todos a tentar 'resolver-nos', não tenho uma dúvida. mas - e agora falo apenas por mim - a máscara da 'iluminada' - que até escreve, inspirada, sobre fadas, almas, desejos, índigos, dias de luz - só poderá começar a cair quando não existir mais o medo de mergulhar a fundo nas minhas sombras e de as trazer à superfície. quando não tiver mais pudor de espécie nenhuma em revelar o meu lado sombrio. acham o quê? que estou 'resolvida'?... 'crescida'? que pratico tudo o que digo? que a Balança supostamente amorosa não tem também os seus ódios?... as suas crises de auto-estima? que não manipulo, não controlo, que não componho cenários idílicos fingindo que já lá estive?!...
os Dias da Sombra são isso. levantar o tapete para ver para onde é que tenho andando a varrer o meu pó e mostrá-lo a quem quiser vê-lo. todos temos os nossos 'tapetes'. todos varremos o pó para lugares onde os outros não possam vê-lo. todos preferimos mostrar onde é que somos feitos de luz - porque o somos, de facto - e esconder as partes que estão na penumbra.
pois eu deixei de ter medo e vou pôr as sombras à mostra.
nem sequer com o intuito de que, expostas ao ar, se dissolvam e me iluminem, mas por fazerem parte de mim e porque estou mesmo farta de máscaras!

(e não, não é um exercício de auto-flagelação na praça pública, apenas... terapia :))

3 comentários:

  1. Este também é tirado directamente de... lá.

    Obrigada, Inês. Por mais um momento de lucidez, e porque sim: "Arre! estou farta de semi deuses", de viver a achar que toda a gente já está iluminadíssima e que a mim me faltou um contrato qualquer com a EDP...

    Como se a maior parte dos post...s e das parangonas dissessem: "Aínda não és feliz? É só porque não queres! É tão fácil!!! Eu tenho o segredo. eu tenho todos os segredos... A apologia da abundância, da felicidade, do portal que se vai abrir e nos vai levar a todos para um sítio fantástico... Ninguém quer atravessar o espelho, essa é que é essa! Ninguém quer quer seguir o Coelho Branco, porque algures lá em baixo, bem lá em baixo, pode estar uma Raínha de Copas que nos quer cortar a cabeça. E sabe-se lá que forma toma a Raínha de Copas perante nós... Já repararam que a maior parte das pessoas nem sequer deixa os outros sentir a dor? Que a primeira coisa que fazem é dizer: Vá, não chores! Chorar não resolve nada. Porque a nossa dor engancha na dor dos outros. As nossas insuficiências espelham a do próximo. As nossas imperfeições mostram ao outro que ele também não é perfeito. Não tem muita graça, pois não? Mas é assim.

    E há gente a achar que está muitos patamares acima dos outros, a nível de consciência. E já li aqui coisas no FB de cortar os pulsos. Não é por mal que o fazem, é certo. Mas na tentativa de querer um mundo perfeito às vezes há aberrações ditas e nunca se sabe por quem vão ser lidas. Uma das mais comuns é que tem que se extreminar o EGO. Como se o EGO fosse uma doença. Isto é um exemplo. Quem souber de psicologia, sabe que o EGO não se pode extreminar. Sem Ego seríamos todos psicóticos... enfim... os exemplos poderiam continuar.

    Mais uma vez, grata pela tua lucidez*

    ResponderEliminar
  2. Cara Inês,
    Acabo de acordar segunda vez hoje. A primeira foi às 4h30, a segunda agora e, graças ao António Rosa, acordei com este seu texto. Dia 2 foi também um dia especial para mim. Escrevi-o aqui no meu blog http://nosintersticiosdaluz.blogspot.com/. Partilho o interesse pela Sombra.. Até já.. Obrigado!
    João H

    ResponderEliminar
  3. Olá Inês:-)
    é mesmo isso. As Balanças, equilibradas, calmas, seguras, sorridentes, pacificadoras...quantas dúvidas, medos, inseguranças, trazem em si?
    O meu blogue também nasceu pela ânsia de me mostrar ao Mundo, nas minhas palavras que gosto de escrever, mas que desejo que sejam lidas, pela minha necessidade de me fazer a mim mesma a terapia que o dinheiro não pode pagar...
    Bjs

    ResponderEliminar