quarta-feira, 6 de outubro de 2010

ao longo dos últimos tempos,

tenho sentido que os meus guias procuram, 'desesperados', alguém que lhes possa servir de 'pombo-correio' e me traduza, em linguagem humana, as suas mensagens celestes. 'desesperados' propositadamente entre aspas, pois se há sentimento que sinto que os guias não têm é desespero... mas calculo que se sintam, de alguma forma, impotentes e um pouco cansados... pelo tanto que me têm soprado para dentro, e eu sempre fingindo que os sopros são, simplesmente, os tais 'distúrbios de personalidade' de que falei no meu último 'post'. vozes às quais não dou a importância devida, mas que apenas copio para a escrita, talvez por sentir que não sou merecedora de ouvir os sopros do céu...

sim, tenho andado confusa...
mais frágil do que é costume, ou então cedendo apenas à fragilidade que sempre existiu e que faz parte de mim, mas que vou tentando esconder. há anos que construo armaduras para poder ir à luta sem correr riscos. coletes de ferro que sobreponho no peito, poços de lacrimosas que seco e toda uma série de artilharia pesada que - acho eu, iludindo-me - me vão defender dos 'golpes mortais' que a minha humanidade, por ser toda ela feita de carne, convoca.
sobretudo desde a morte do Pyppo - pai dos meus filhos mais velhos - que me auto-convenço que a minha força é proprocional à teimosia com que resisto a deixar-me levar pela dor e a mergulhar no meu poço de lágrimas. os guias soprando-me a rendição e eu, teimosamente, encontrando desculpas e formúlas para resistir ao seu sopro divino. chego mesmo a sentir que, muito antes da morte do Pyppo, já eu me tinha tornado numa 'resistente profissional' e que 'perdê-lo' foi apenas mais um sinal do que posso ter a ganhar, assim que baixar as minhas defesas e me render...

felizmente, eles nunca desistem - a não ser, imagino, no dia em que sentirem que eu desisti de mim mesma e que escolhi viver o resto da minha vida sem eles - o que também pode ser uma escolha... 
feliz - e agora tentando deixar a mente de fora desta 'conversa' -, apesar de todas as perdas, de todas as feridas, de todas as dores, de tantas vezes de me ter sentido humanamente incapaz de praticar o que a minha alma revela, apesar de ainda activar a minha armadura de ferro sempre que sinto uma seta a caminho do peito e disposta a furar-me as extensas superfícies de pele de que também sou feita, eu não desisti de mim mesma nem de cumprir-me em tudo aquilo a que me propus, quando escolhi ser a Inês, nesta vida.

e por isso hoje agradeço, não só aos meus guias, mas a todos os pombos-correio que - talvez sem darem por isso - me vão traduzindo, em linguagem humana, os seus sopros divinos. 

a mortalidade comum que todos nós transportamos transpõe-se quando sentimos ser elos de uma mesma cadeia e co-criadores deste universo infinito. e se a língua dos anjos é vento, murmúrio de mar, barulho de chuva a cair, estalido de fogo, canção de seara, bulício de campo, alvoroço de terra, a nós foi-nos dado o dom da palavra. para que possamos exprimir, e transmitir uns aos outros, a poesia da criação e as várias formas de rimarmos com ela.

1 comentário:

  1. «eu não desisti de mim mesma nem de cumprir-me em tudo aquilo a que me propus, quando escolhi ser a Inês, nesta vida.»

    Amén.

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