quarta-feira, 27 de outubro de 2010

hoje, quando as deitei,

estavam as duas preocupadas comigo. mais mansas do que é costume, sem exigências quase nenhumas, solícitas e oferecendo-me doses extra de mimos e beijinhos melosos.
   coitadinha de ti, mãe
dizia a Luísa, ao mesmo tempo que me enchia de festas
   essa conólostopia que vais fazer amanhã deve ser mesmo horrível! 
em jejum desde a uma da tarde, quase não tive forças para rir. muito menos para a corrigir e aí talvez já não por falta de forças, mas porque adoro quando a Luísa inventa palavras. sosseguei-a.
  não, Luisinha, não é horrível. a mãe vai estar a dormir e não vai sentir nada.
e foi assim que a conversa passou da conólostopia para o não sentir nada.
  vão dar-te uma anestesia, não é, mãe?
perguntou a Madalena.
  sim, vão pôr a mãe a dormir e a mãe não vai sentir nada.
  e como é que é? vai doer? já te deram alguma?
quis saber a Luísa.
  já, Luisinha, já levei várias anestesias e não dói mesmo nadinha.
  pois, para tirar os bebés da barriga é preciso estar muito anestesiada
opinou a Madalena.
pela enésima vez, expliquei-lhes que, em casos normais, as mães não levam anestesia nenhuma e os bebés saem pelo pipi, e não pela barriga.
   mas, no caso da mãe,
continuei, com paciência,
   tiveram os quatro de sair da barriga por cesariana e por isso a mãe precisou de levar anestesia.
   então estavas a dormir quando nascemos?
perguntou a Luísa.
também já lhes contei isto não sei quantas vezes, mas parecem esquecer-se.
  quando foi da Francisca e do Lucas, sim, a mãe estava a dormir. mas com vocês as duas a mãe teve a sorte de poder estar acordada, porque a anestesia era só da barriga para baixo.
  e tu viste tudo?
  não, Luisinha, não vi quando cortaram, se é isso que queres saber... mas vi-vos assim que nasceram. eram tão queridas! mesmo pequenininhas... e pus-vos logo aqui, em cima do peito, para vos dar um beijinho.
riram-se as duas e foi então que veio à baila a história da sementinha.
  mãe, pode acontecer a minha sementinha já estar na tua barriga antes de o pai Pippo morrer?
  não, filha, não pode.
  porquê?
  porque a tua sementinha é de outro pai, Madalena.
  mas já podia lá estar e tu e o pai não saberem...
  não, não podia...
ficámos as três em silêncio uns instantes e foi então que ela disse
  mas no teu coração está desde sempre, não é, mãe?

e estão mesmo! no meu coração, desde sempre, está não só a sementinha da Madalena, mas a da Francisca, a do Lucas e a da Luísa. pressinto até que tenham chegado antes de os pais as terem vindo plantar no meu ventre e que nos tenhamos escolhido, para ser mãe e filhos, quando ainda só éramos estrelas.
com uma longa noite de jejum pela frente,  mais frágil do que é costume e com a tal da conólostopia a querer visionar-me as entranhas, é deste amor visceral pelos quatro que também me alimento... hoje e sempre.

1 comentário:

  1. Lindo Inês
    Ser Mãe de quatro é maravilhoso
    Sei do que falo
    Quanto a amanhã, fico a pensar em ti enquanto mergulho no mundo da Bimby
    Não pus de lado o querer conhecer-te a sério
    Apenas o tempo me tem atropelado todos os dias...
    Bj

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