tag:blogger.com,1999:blog-28521237637800683212024-03-14T07:59:13.629+00:00-------☆ volto já.Unknownnoreply@blogger.comBlogger206125tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-49933881517648621002014-08-10T15:55:00.001+01:002014-08-10T15:55:16.728+01:00às onze voltou a ligar,já eu andava nas compras.<br />
deixei tocar cinco vezes e, à sexta, atendi.<br />
- desculpe lá aquilo de há bocado - disse eu, baixinho, e a seguir desculpei-me de novo.<br />
- e desculpe estar a falar tão baixinho, mas é que estou no pingo doce e isto aqui está cheio de gente por todos os lados...<br />
respondeu-me que compreendia perfeitamente e que não queria atrapalhar-me.<br />
- era só para saber se está acordada - ouvi-o dizer, também em voz baixa.<br />
fez-se um pequeno silêncio e, de novo, pedi-lhe<br />
- acha que me pode ligar mais daqui a bocado?Unknownnoreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-91254866660041136032014-08-10T15:46:00.003+01:002014-08-10T15:46:57.317+01:00sabia que um dia ele voltaria a ligar-mee ligou.<br />
hoje de manhã, ainda não eram nove horas, tocou o telefone e atendi<br />
- sim?<br />
esperava ouvir a voz rouca de que me lembrava, mas saíu cristalina, parecia a voz de alguém muito crescido, mas que estranhamente não tinha perdido aquele timbre limpo da infância.<br />
- bom dia *<br />
- é você? - perguntei.<br />
- você quem? - e percebi que ele sorria. <br />
tirando a voz, menos grave e mais doce, continuava na mesma. <br />
- sempre a meter-se comigo, não é?<br />
e a seguir espreguicei-me, enrosquei-me melhor nos lençóis, bocejei.<br />
- aahhhahhhh...<br />
- isso é que é sono! - disse ele.<br />
olhei para o céu através da clarabóia no tecto e mudei de conversa. <br />
- e você? tem andado por onde? nunca mais disse nada!<br />
mas ele só respirou e, por breves momentos, não me mexi e fiquei muito quietinha, com o telefone encostado ao ouvido, a sentir uma brisa a percorrer-me primeiro o pescoço e depois a descer-me pela barriga e logo a seguir pelas pernas abaixo e ainda lhe disse<br />
- páre lá com isso!<br />
mas depois, ao perceber como tudo em mim respirava em uníssono, fiquei tão comovida que só tive tempo para lhe pedir<br />
- por favor, ligue mais tarde...<br />
antes de lhe desligar o telefone. <br />
deviam ser nove e meia ou assim.<br />
<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-90006508760077343002012-09-07T14:05:00.000+01:002012-09-07T22:09:41.344+01:00queres ler a sina, amor?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPWNraXC6QbuZrkddhKp-vaUpA7-4CGtkougwcf87eSwJ906y-vTZGuyt8RkghI4jVcfqdgsIe9_9SkADLM2FqLQxh7gQD3vhkFoFzuWhyphenhyphenQNrTVBXVv9fgcB_JVipQc-iiSPNhg-tYuPmw/s1600/bele%CC%81m+04.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="428" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPWNraXC6QbuZrkddhKp-vaUpA7-4CGtkougwcf87eSwJ906y-vTZGuyt8RkghI4jVcfqdgsIe9_9SkADLM2FqLQxh7gQD3vhkFoFzuWhyphenhyphenQNrTVBXVv9fgcB_JVipQc-iiSPNhg-tYuPmw/s640/bele%CC%81m+04.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
ainda não eram nove horas e já eu estava à porta do jardim tropical. só abria duas horas depois, às onze, e fui fazer tempo para os outros jardins de belém, àquela hora ainda sem os turistas de máquina ao ombro e sem as mães com as crianças e com o rio a servir de pano de fundo. estava lindo e eu ia contente, já de olhos pregados no chão em busca de matérias-primas, quando fui interpelada por uma cigana</div>
<div style="text-align: justify;">
queres ler a sina, amor?</div>
<div style="text-align: justify;">
disse que não e ela aproximou-se.</div>
<div style="text-align: justify;">
devias querer! vejo grandes perigos no teu futuro.</div>
<div style="text-align: justify;">
ri-me e abri os braços ao sol, dei uma volta sobre mim própria, como quem dança, e disse à cigana</div>
<div style="text-align: justify;">
sou uma alma abençoada, não vês?</div>
<div style="text-align: justify;">
por isso mesmo é que tantos perigos te espreitam</div>
<div style="text-align: justify;">
respondeu ela. </div>
<div style="text-align: justify;">
agradeci-lhe e segui caminho. não havia assim tantas matérias primas no chão, para além das folhas que o verão ia deixando cair, em tonalidades que iam do verde aos castanhos, passando pelos amarelos. tinha saído de casa com a intenção de ir ao jardim tropical, já a pensar no workshop de dia 21, em pleno equinócio de outono, para descobrir que tipo de matérias primas haveria por lá. </div>
<div style="text-align: justify;">
estava de cócoras a apanhar umas folhas do chão quando a segunda cigana veio ao meu encontro.</div>
<div style="text-align: justify;">
ai filha, tantas invejas que há sobre ti!</div>
<div style="text-align: justify;">
disse ela, ao mesmo tempo que me ia rondando.</div>
<div style="text-align: justify;">
levantei-me do chão e saudei-a</div>
<div style="text-align: justify;">
bom dia.</div>
<div style="text-align: justify;">
dá cá a mão que eu leio-te a sina</div>
<div style="text-align: justify;">
e estendeu a dela para mim e eu apertei-a e repeti o bom dia.</div>
<div style="text-align: justify;">
a tua vida está cheia de pessoas que te querem fazer mal</div>
<div style="text-align: justify;">
disse a cigana.</div>
<div style="text-align: justify;">
de novo me ri, só que desta vez não dancei, dei-lhe uma palmadinha afectuosa no ombro e repeti o que já tinha dito à primeira</div>
<div style="text-align: justify;">
sou uma alma abençoada por deus</div>
<div style="text-align: justify;">
e segui caminho.</div>
<div style="text-align: justify;">
a terceira cigana não me deixou dar nem três passos</div>
<div style="text-align: justify;">
ó minha querida, não queres ler a sina?</div>
<div style="text-align: justify;">
agradeci e disse que não.</div>
<div style="text-align: justify;">
fazemos assim, insistiu ela, se eu acertar, dás-me um euro, se eu não acertar não me dás nada.</div>
<div style="text-align: justify;">
mas eu, que ultimamente ando tão certa da minha sina que já não me deixo enganar facilmente, continuei a caminho de um pedaço de relva, onde jaziam uma série de flores. de cócoras, juntei-as e pu-las em círculo e depois fiz um círculo à volta do círculo e depois outro e mais outro e ali fiquei duas horas. </div>
<div style="text-align: justify;">
a certa altura, uma senhora parou e quis saber se aquilo eram modelos para eu depois fazer em crochet e eu disse que não.</div>
<div style="text-align: justify;">
mas olhe que até podiam ser</div>
<div style="text-align: justify;">
disse ela. e aproximou-se para poder vê-las de mais perto.</div>
<div style="text-align: justify;">
esta aqui já me deu umas ideias!</div>
<div style="text-align: justify;">
e apontou para a primeira e explicou-se:</div>
<div style="text-align: justify;">
é que eu também faço umas coisinhas em renda, percebe? as minhas amigas até têm inveja, porque eu sou muito jeitosa, e essa aí acho que ficava mesmo bem num naperon ou no centro de uma toalha ou assim.</div>
<div style="text-align: justify;">
estive quase para sugerir à senhora que fosse ler a inveja na sina, mas limitei-me a acenar com a cabeça </div>
<div style="text-align: justify;">
é. num naperon ficava muito bem.</div>
<div style="text-align: justify;">
mas isso é preciso muita paciência, não é?</div>
<div style="text-align: justify;">
quis saber a senhora e eu disse que sim.</div>
<div style="text-align: justify;">
e é paciência, sim, mas não é só. é sobretudo e acima de tudo presença. foco. atenção. e a partir daí tudo flui...</div>
<div style="text-align: justify;">
estava a ir-me embora quando a quarta cigana veio ao meu encontro. </div>
<div style="text-align: justify;">
ai tanta inveja que anda aí à tua volta, menina...</div>
<div style="text-align: justify;">
apontei-lhe a árvore e depois o pedaço de relva onde as mandalas dançavam e disse-lhe</div>
<div style="text-align: justify;">
se me quiseres ler a sina, ela está ali escrita.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-8696091862183768982012-09-05T11:20:00.001+01:002012-09-05T13:47:59.556+01:00fellini *<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlm-iG_EPId02dP6mumhpe_yvU0tY4KteqpeVqtMgtsuNA9hVPTxAFJTZOI9Xr32XQfm8RmcWV93xbGm7KcVmMK1EIFRTYJ2AMEna8tlXKz5qE6ngjMwcAyO7-1OHQ2bxxgogdUEXcNDWR/s1600/felini.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="428" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlm-iG_EPId02dP6mumhpe_yvU0tY4KteqpeVqtMgtsuNA9hVPTxAFJTZOI9Xr32XQfm8RmcWV93xbGm7KcVmMK1EIFRTYJ2AMEna8tlXKz5qE6ngjMwcAyO7-1OHQ2bxxgogdUEXcNDWR/s640/felini.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
ia dizer que o encontrámos na rua, mas acho que é mais verdadeiro dizer que foi ele que nos descobriu e chamou a atenção. não faço ideia do que estaria a fazer instalado naquelas escadas, mas assim que passámos miou e a L., mais atenta do que eu aos barulhos do campo, disse logo :</div>
<div style="text-align: justify;">
olha, mãe, está ali um gatinho. </div>
<div style="text-align: justify;">
deixa-o estar, disse eu. </div>
<div style="text-align: justify;">
e segui.</div>
<div style="text-align: justify;">
mas ele voltou a miar e era um miar muito mansinho, nem sequer me pareceu que fosse um miado de mimo ou de quem pretendia inspirar compaixão, mas de pura bondade, de saudação, de presença.</div>
<div style="text-align: justify;">
ó mãe, ele é tão querido, não é? </div>
<div style="text-align: justify;">
insistiu a L. </div>
<div style="text-align: justify;">
e, puxando-me a mão, obrigou-me a voltar para trás.</div>
<div style="text-align: justify;">
acha que posso pegar-lhe?</div>
<div style="text-align: justify;">
achei que sim e a L., devagarinho, subiu os degraus da escada onde ele estava instalado e ele deixou-se pegar sem oferecer resistência. diria mesmo que se aninhou nos braços da L. e que os sentiu familiares e seguros. </div>
<div style="text-align: justify;">
vá, agora vamos embora, disse eu passado algum tempo. </div>
<div style="text-align: justify;">
e seguimos.</div>
<div style="text-align: justify;">
o caminho foi todo com a L. a falar do gatinho. ou da gatinha, nessa altura tanto eu como ela achámos que era uma gata. e nem o espectáculo do sol a pôr-se por trás das serras acalmou a L. - que queria à força saber se, no regresso, podíamos passar de novo à frente da casa para ver se a gata ainda estaria nas escadas. </div>
<div style="text-align: justify;">
disse que sim e passámos, mas já lá não estava.</div>
<div style="text-align: justify;">
que pena!, suspirou a L. </div>
<div style="text-align: justify;">
e não falou noutra coisas até serem horas de irmos jantar. </div>
<div style="text-align: justify;">
posso ir procurá-la?, pediu-me, mesmo antes de irmos para a mesa e, sem esperar pela resposta, saíu porta fora. voltou nem dez minutos depois, radiante, com a <i>kitty</i> nos braços, a rir e aos gritos</div>
<div style="text-align: justify;">
temos uma gatinha! temos uma gatinha!</div>
<div style="text-align: justify;">
a M. veio a correr e disse</div>
<div style="text-align: justify;">
ah, tão querida!</div>
<div style="text-align: justify;">
e a F.</div>
<div style="text-align: justify;">
<i>kitty</i>? <i>kitty</i> é bué mau, temos de lhe arranjar outro nome!</div>
<div style="text-align: justify;">
nessa noite, depois de lhe termos aberto o portão para nos certificarmos se não quereria voltar à sua vida e às escadas, a <i>kitty</i> dormiu lá em casa, na cama da tia R. </div>
<div style="text-align: justify;">
se foi do contágio entre a pele e os pêlos não sei, mas sei que, no dia seguinte, a tia R. acordou e reivindicou que a gata agora era dela, que ia levá-la para lisboa e que o seu nome passara a ser <i>clementina</i>. </div>
<div style="text-align: justify;">
não é justo!, queixava-se a L., nós é que a encontrámos!</div>
<div style="text-align: justify;">
sim, era o que faltava!, insurgia-se a F., ir para uma casa em lisboa que nem sequer tem jardim!</div>
<div style="text-align: justify;">
mas depois podíamos ir lá visitá-la!, dizia a M., que no fundo achava que à tia R., que vivia sozinha, a companhia da gata seria mais útil. </div>
<div style="text-align: justify;">
se ao menos a mãe deixasse sermos nós a levá-la...</div>
<div style="text-align: justify;">
deixa, mãe?, perguntou a F.</div>
<div style="text-align: justify;">
deixa, mãe?, perguntou a M.</div>
<div style="text-align: justify;">
deixa, mãe?, perguntou a L. </div>
<div style="text-align: justify;">
não disse que sim nem que não e, nos dias que se seguiram, limitei-me a observar. </div>
<div style="text-align: justify;">
a gata, que se descobriu entretanto ser gato, passou a ser o centro das atenções e todos os dias, pela manhã, a L. e a M. vinham até ao meu quarto para me perguntarem,</div>
<div style="text-align: justify;">
e então, mãe? já decidiu se podemos levá-lo?</div>
<div style="text-align: justify;">
ao mesmo tempo que a F. tentava provar-me que ele nos tinha escolhido e que precisava de nós. </div>
<div style="text-align: justify;">
disse 'não sei' até ao último dia e ontem, no último dia, dentro de um cesto de roupa onde, de início, odiou ser 'enfiado', o <i>fellini</i> fez connosco o caminho de volta para casa. </div>
<div style="text-align: justify;">
temi que pudesse estranhar o jardim, que tivesse saudades das escadas e dos barulhos do campo, que se sentisse infeliz por o termos privado das canções das cigarras que, à noite, enchiam o pátio, mas não me parece que tenha estranhado ou sentido falta de nada, pelo contrário. anda por aí à vontade e aos saltos, de cada vez que uma borboleta lhe chama a atenção, já subiu ao telhado e a duas das árvores, esta noite dormiu com a F., de manhã foi a L. quem lhe serviu o pequeno-almoço e ainda há pouco estava refastelado no colo da M., a ver televisão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-6338316914568207482012-08-10T15:48:00.002+01:002012-08-10T15:49:13.000+01:00Clara *<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgc1V5_ZTtS0Kj8JyxgpJLWCDhzGKAuqHKZgu4GsUskcxSCj08U4XDJw9OTrt3PTevi75t429zHLtpSX1dg59PPC0Srz-HhvWMa7T5cWhw91vO8XhLuczYFudZ1qg4xPt0El6RQ4-jFONWO/s1600/capaana.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgc1V5_ZTtS0Kj8JyxgpJLWCDhzGKAuqHKZgu4GsUskcxSCj08U4XDJw9OTrt3PTevi75t429zHLtpSX1dg59PPC0Srz-HhvWMa7T5cWhw91vO8XhLuczYFudZ1qg4xPt0El6RQ4-jFONWO/s640/capaana.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">'Não há ali nada que
desumanize o milagre, pelo contrário. Dentro das quatro paredes da sala, tudo é
familiar. A volumetria do espaço, o Inverno a entrar pela janela, o limoeiro do
jardim reflectido nos vidros, a temperatura dos pássaros.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">Estão todos em casa. A
mãe, o pai, a doula, a parteira, os quatro aguardando o nascimento de Luz.
Desde o princípio da gravidez que Pietro e Clara decidiram que a teriam ali.
Longe do bulício metálico dos hospitais, a salvo das contracções induzidas, das
batas assépticas, das mãos de borracha, da vulgaridade com que, hoje em dia, se
revolvem as águas maternas para que se escoem depressa, nem que para isso seja
preciso alterar-lhes o curso ou violar-lhes as margens. Ali, nenhum dos cinco
tem pressa. Não há urgência nenhuma para além do amor com que esperam por Luz.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Há duas horas que as contracções vêm e
vão, cada vez mais fortes, mais regulares e menos espaçadas, o colo alargou-se
três dedos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">De cócoras no chão, a
mãe inspira e expira. Faz do ar um instrumento de sopro, afina-o pelo seu
próprio corpo e pelo corpo da filha, para que a dança do parto se faça em
uníssono e nada se parta, afinal. Dor e prazer conjugados num só movimento,
quem foi que inventou que parir é a paga por ter comido a maçã? A ela, soa-lhe
bem, sabe-lhe bem, não se queixa dos espasmos nos rins, Pietro massaja-os. Não
se divide. São dois corações, mas o pulsar que os convoca para a vida é o
mesmo. A doula mede-lhe o pulso e confirma as batidas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">- Ainda falta.
Respira.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">A contracção dá-lhe
tréguas e Clara levanta-se. Dá uma, duas, três voltas à sala. Que bom não ter a
clausura da maca, a imposição do sossego, a horizontalidade da espera a colidir
com a verticalidade dos médicos – que evocam a ética para os procedimentos mais
disparatados e se fazem valer dos maravilhosos avanços da técnica para amordaçar
as parturientes. Em casa, está mais à vontade e mais livre. Pode deambular,
como agora, ou pôr-se de gatas, de cócoras, beber um golinho de chá,
estender-se no chão, enrolar-se nos braços de Pietro, deitada de lado, enquanto
a doula lhe faz um pouco de reiki. Pode gemer sem pudor, gritar, ter dores à
vontade, pois sabe que vêm e vão e que nenhuma é para sempre e que ninguém a
manda calar. O ventre chega a parecer-lhe de pedra, mas é de carne, é de pele
maleável, macia, não rompe e não rasga, não quebra, não abre, apenas ampara a
descida de Luz através do canal e faz parte do seu papel ajudá-la a descer pelo
seu corpo, preparar-lhe o caminho, facilitar-lhe a chegada. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">- Respira... Isso,
respira... Com calma... Inspiiiiiiiira... E expiiiiiiiira!...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">O colo continua a
alargar. A parteira confirma:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">- Seis dedos. Está
quase...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">A noite avança do lado
de fora dos vidros polvilhada de estrelas, o limoeiro adormece na relva, o
Inverno esfria as asas dos pássaros, é quase Natal e há velas acesas pela casa
toda.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">Pietro está proibido
de fotografar. Clara evocou “uma questão de intimidade” e ele compreende. No
entanto, os seus olhos disparam. Registam imagens, texturas, expressões,
emoções. O rosto de Clara coberto por pequeníssimas gotas de esforço, a curva
da nuca encharcada, a humidade no fôlego, a doçura das mãos postas em concha à
chegada do corpo, o arco das costas, o ventre convexo, a perplexidade perante
tamanha beleza... tudo isto se vai revelando aos olhos de Pietro. Retém o
momento em que a mulher se levanta, de novo. Ajusta as íris às sombras que a
maternidade projecta, persegue a silhueta proeminente de Luz ainda coberta de
ventre, a fluir na parede, o ângulo redondo da carne, o enquadramento dos
seios, que Clara ampara nos braços como se fossem colheitas de Verão. Não tarda
e terá a quem dar o seu fruto.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">- Acho que agora quero
ir para o quarto – diz, então, Clara.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">A doula e Pietro
acompanham-na, enquanto a parteira vai até à cozinha pôr água a ferver. As
contracções intensificaram-se, está com oito dedos de dilatação, senta-se em
cima da cama de pernas abertas, encosta-se à cabeceira. Respira. Não tarda e
vai precisar de todas as forças para trazer Luz ao mundo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">- Isso, respira...
respira... respira.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">Sente-a então a
descer, devagarinho a caminho da vida cá fora, dor e prazer misturam-se agora
no fundo do corpo. Está quase a expulsá-la, mas acha “expulsão” uma palavra
forçada, pois não a expulsa de lado nenhum, apenas empurra para fora de si um
ser que já não lhe pertence, que apenas gerou nas suas entranhas e que alimentou
com o pulsar do seu coração. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">- Está quase! – diz a
parteira, e Clara faz força. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">Faz toda a força que
tem, mas ainda não chega. Pietro, ao seu lado, faz força também. Clara sente
que lhe dói tudo, que o esforço que falta a transporta para fora de si, vê o
tecto a abaular-se e a cama parece feita de espuma. Está quase, repete para si
mesma, baixinho, entre dentes, ao mesmo tempo que, novamente, faz força. É
então que sente a cabeça de Luz entre as pernas. É tudo tão rápido que não tem
tempo para pensar em mais nada. A dor deu lugar ao prazer, sente-a a escorregar
por entre as coxas suadas, já não força mais coisa nenhuma, rende-se apenas a
esse milagre que é ser capaz de gerar uma vida a partir do amor. A parteira
pega-a ao colo e Luz convoca a alegria de todos, o seu choro não é um lamento,
é um hino de estreia. Luz respira e toma conta da cama e do quarto. É Pietro
quem corta o cordão, ao mesmo tempo que sente criar-se um laço invisível que
unirá para sempre três seres. Está tão comovido que desfoca as imagens, a voz
sai-lhe tremida, tem vontade de se deitar ao lado de Clara e de Luz e é isso
mesmo que faz, testemunhando como se encaixam as duas tão bem e aproxima-se
mais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Bookman Old Style"; font-size: 14.0pt;">Depois do esforço e da
glória, depois do louvor e do espanto, a filha ainda cabe na mãe, agora do lado
de fora do corpo. Enrosca-se nele, parece que a curva do peito foi feita a
pensar no seu porte, minúsculo, que a penumbra da pele se projecta a partir do
novelo que as duas compõem. Respiram, compondo um dueto perfeito. O ar amansa a
chegada do dia, o limoeiro e a relva acordaram, as asas dos pássaros estão
cobertas pela penugem dos anjos, sopra uma aragem dentro do quarto. E, no
entanto, Luz estranha, talvez, a consistência a vapor. É demasiado gasosa para
quem viveu meses a fio dentro de um mar de água doce. Por isso, procura-o na
mãe, agora do lado de fora do corpo. Tem fome da espuma, guarda ainda a memória
das ondas na boca, precisa de embalo, de amor, de alimento. Quando, enfim, o
encontra, nos seios sumarentos e generosos de Clara, Pietro regista o momento,
a sustentabilidade da vida, o amor. Desta vez, com a lente da Nikon, embaciada
pela comoção dos seus novos olhos de pai.' </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-1100144538158069852012-06-29T10:40:00.000+01:002012-06-29T14:51:59.198+01:00mães como nós *<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7QsD0klxIlT9WS3EPyNDWH1YCNHU4UV8HYLCJbRv8_vHA7s_mKvZCkBhGqMsVRLbZ_tJkAkoem5N3WboaAYy-g0rxecwASBqN_iZCDIKF28o6rckxGQRQQp_aIv0bSeZsOEtP8kGIY0jW/s1600/image-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7QsD0klxIlT9WS3EPyNDWH1YCNHU4UV8HYLCJbRv8_vHA7s_mKvZCkBhGqMsVRLbZ_tJkAkoem5N3WboaAYy-g0rxecwASBqN_iZCDIKF28o6rckxGQRQQp_aIv0bSeZsOEtP8kGIY0jW/s400/image-1.jpg" width="277" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="http://www.wook.pt/ficha/maes-como-nos/a/id/13165569">aqui</a></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<a href="http://www.wook.pt/ficha/maes-como-nos/a/id/13165569"><span class="text_exposed_show"><span style="color: #073763; font-size: large;"></span></span></a><span class="text_exposed_show"><span style="color: #073763; font-size: large;">há histórias que são verdadeiras, </span></span><br />
<span class="text_exposed_show"><span style="color: #073763; font-size: large;">mas que não são reais. </span></span><br />
<span class="text_exposed_show"><span style="color: #073763; font-size: large;">há vidas que são reais, </span></span><br />
<span class="text_exposed_show"><span style="color: #073763; font-size: large;">mas que não são verdadeiras. </span></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span class="text_exposed_show"><br /> </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span class="text_exposed_show"><br /> </span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-62902856294398951312012-05-31T12:16:00.001+01:002012-05-31T12:17:03.993+01:00who cares ?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbDls1MO5IClrXOp5JVLnSS-nBOXz0hEnE81xJJOROVV2SWfM-CRek0ji70TvNfgffLTud5PM0p2RuygLZ34FqTzUwMTZsurU7VnJ3AON9-cvMmRV8eXzv5i2cY1vy8HeV9eF40-yXhVlw/s1600/walls.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbDls1MO5IClrXOp5JVLnSS-nBOXz0hEnE81xJJOROVV2SWfM-CRek0ji70TvNfgffLTud5PM0p2RuygLZ34FqTzUwMTZsurU7VnJ3AON9-cvMmRV8eXzv5i2cY1vy8HeV9eF40-yXhVlw/s320/walls.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
é um bom truque. usei-o milhares de vezes e há dias em que ainda o uso. costumava resultar, este meu truque. com a minha mãe, por exemplo, resultava muito bem. fechava-me no quarto e saboreava a insistência com que ela batia à porta e me pedia </div>
<div style="text-align: justify;">
vá lá, deixa-me entrar. </div>
<div style="text-align: justify;">
e eu que não, que não deixava, e ao mesmo tempo desejando que insistisse, que não deixasse de pedir-me</div>
<div style="text-align: justify;">
vá lá, deixa-me entrar.</div>
<div style="text-align: justify;">
e, às vezes, eu deixava e o bem que me sabia!, confirmar que se importava, que me amava a ponto de não permitir que me trancasse ou que ficasse a tarde inteira a consumir-me, o bom que era ser capaz de consolar-me, mas também havia dias em que ela desistia e me deixava entre a raiva e a frustração, entre a carência e a agonia, imbuída em auto-comiseração e com a certeza - absoluta! - de que, afinal, a minha mãe já não me amava.</div>
<div style="text-align: justify;">
o mesmo truque foi usado com o pai, com a avó, com as tias, com amigas, namorados... e assim me afeiçoei a ele. mais do que um truque, era uma forma de aferir até que ponto é que os outros se importavam, até onde é que estavam disponíveis para amar-me e em que medida é que valia a pena investir neles.</div>
<div style="text-align: justify;">
e se hoje em dia ainda recorro ao truque, se muitas vezes continuo a erguer muros para que os outros os derrubem e me provem que se importam, para que venham dar-me colo e 'destrancar-me' o coração, também descubro que ninguém, a não ser eu, pode fazê-lo. só eu construo ou descontruo o que me une ou me separa. só eu me importo o suficiente para ir tendo a consciência de que ninguém derruba os muros que vou erguendo à minha volta a não ser eu. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-6013956981662576622012-05-14T22:59:00.004+01:002012-05-14T23:43:08.653+01:00*.<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0gHybPIK_r1jHmMqqmwXNXBeL24IB2oY15H-O8Q0pdgpPJ_klwzKfpRUUMG-BXxJ7jChx_pfR6WolgqFotfSvnS0OD1LAY6CkG6xS_JBbYM97XlBxfMxUoM39nm4UZ1QkutvAgFQlOOyx/s1600/dias.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="274" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0gHybPIK_r1jHmMqqmwXNXBeL24IB2oY15H-O8Q0pdgpPJ_klwzKfpRUUMG-BXxJ7jChx_pfR6WolgqFotfSvnS0OD1LAY6CkG6xS_JBbYM97XlBxfMxUoM39nm4UZ1QkutvAgFQlOOyx/s640/dias.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="color: #134f5c; text-align: center;">
<span style="font-size: large;">há dias que não cabem nas palavras porque as excedem. </span></div>
<div style="color: #134f5c; text-align: center;">
<span style="font-size: large;">porque propositadamente as excluem. </span><br />
<span style="font-size: large;"></span></div>
<div style="color: #0c343d; text-align: center;">
<span style="font-size: large;"></span></div>
<span style="font-size: large;"></span><div style="color: #134f5c; text-align: center;">
<span style="font-size: large;">..</span></div>
<div style="color: #134f5c; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="color: #134f5c; text-align: center;">
<span style="font-size: small;">hoje foi um desses dias *.</span></div>
</div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-55236323380838769352012-05-08T13:25:00.001+01:002015-01-25T10:16:24.411+00:00atiras-te<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAGF6kmQFyFJNbpwV0SRjLf5Tx7l0U59E01VzH8SAO6DGAvQV_SAa457f84vJLv26ynpWVKKFEW_lvl9rtaGI3vrz9Inydl1uUwhGDIeCzQHPZ5SWN3sAZQeMz5LmaHeLuay3IygozoD4w/s1600/ervilha+ica.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAGF6kmQFyFJNbpwV0SRjLf5Tx7l0U59E01VzH8SAO6DGAvQV_SAa457f84vJLv26ynpWVKKFEW_lvl9rtaGI3vrz9Inydl1uUwhGDIeCzQHPZ5SWN3sAZQeMz5LmaHeLuay3IygozoD4w/s640/ervilha+ica.jpg" height="640" width="427" /></a></div>
<div style="color: #0c343d; text-align: justify;">
na direcção dos meus braços e não tenho como não te acolher. há muito tempo que dizes que os abismos te atraem, que passas os dias à beira de precipícios, arribas, falésias, que é para tudo aquilo que te provoca vertigens que corres. mostro-te o disparate que é gostar do assombro quando nele não existe mistério nenhum, apenas lacunas, a inutilidade de te vires despenhar no meu colo com a estúpida esperança do caos... <br />
há uma ordem na pele, ou não sabes?, uma elasticidade nos músculos, uma espécie de amparo na matéria que não permite que as almas se matem, um desígnio qualquer que impede que morram, por mais que os teus ossos estalem de encontro aos ossos do tempo e, mesmo assim, tu atiras-te. atiras-te à espera que eu feche os braços, </div>
<div style="color: #0c343d; text-align: justify;">
é isso? </div>
<div style="color: #0c343d; text-align: justify;">
à espera que o precipício te engula, que no chão da falésia o mar te dissolva e que seja a espuma, muito mais do que o sangue, a substância que irá dar brilho às estrelas.<br />
atiras-te, </div>
<div style="color: #0c343d; text-align: justify;">
vê só que ironia!, </div>
<div style="color: #0c343d; text-align: justify;">
como se os braços não fossem os teus, afinal, não reparas sequer na penugem que os cobre, como se as asas humanas da mortalidade não pudessem cumprir o desejo que tens de voar, voar em vez de cair, voar em vez de atirar com o corpo para o fundo de um poço que o espaço não tem, voar em vez de mentir e ainda ontem te disse que é só na verdade que posso acolher-te, </div>
<div style="color: #0c343d; text-align: justify;">
ou não disse? </div>
<div style="color: #0c343d; text-align: justify;">
já te falei mais de mil vezes nas crenças que temos, mas que não passam disso, mostrei-te lugares que nem as palavras sabem dizer, acolhi-te de todas as vezes em que te atiraste, imagino que na expectativa de adivinhares o futuro e vê só no que deu, repara como é inútil fugir ao presente, a não ser para rapidamente o transformares em passado sem que o tenhas vivido, provado, sem teres saboreado um único dia de chuva, tal era a ansiedade com que esperavas pelo sol,</div>
<div style="color: #0c343d; text-align: justify;">
faz sentido?</div>
<div style="color: #0c343d; text-align: justify;">
é provável que não, que para quem nos veja de fora não faça sentido nenhum, que ninguém compreenda do que falamos, nós duas, quando uma se atira nos braços da outra e a outra não tem como não se acolher a si própria e o disparate que é,<br />
estás a ver?<br />
gostar do assombro quando nele não existe mistério nenhum.<br />
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-34575165989633149952012-05-03T13:08:00.000+01:002012-05-03T13:08:17.089+01:00ontem<div style="text-align: justify;">
um amigo dizia-me que estava cansado das exigências de uma relação. nem sempre percebo, quando os outros me falam dos seus vários cansaços, ou até de outras coisas que sentem, por isso também não sei se percebi qual era, afinal, o cansaço a que ele se referia. porque é dele, não é meu. </div>
<div style="text-align: justify;">
temos esta mania de que somos capazes de vestir a pele dos outros e de sentir o que eles sentem. não somos. mesmo assim, procurei na minha pele o cansaço. procurei todas as relações que me desgastam ou que sinto que exigem de mim o que acredito que não tenho para dar. não houve uma só que escapasse! a relação com a minha mãe, por exemplo. cansa-me ouvi-la a desfiar as doenças e a contar-me das idas ao médico e a pedir-me que dê atenção ao seu sofrimento. cansa-me, a relação com o meu pai, quando me faz mil perguntas sobre o que ando ou não ando a fazer, quando parece exigir que eu faça mais e melhor e me diz que tem pena de me sentir tão aquém das minhas capacidades. cansa-me, a relação com a minha filha mais velha, ultimamente numa montanha de altos e baixos, ora a rir-se que nem uma histérica, com a música aos gritos, ora a chorar-me nos braços e a perguntar-me "porquê" porquê? porquê?" cansa-me, a relação com o meu filho, às vezes tão malcriado que só me apetece dar-lhe tabefes na cara, abaná-lo e perguntar-lhe se acha que a vida é só futebol, obrigá-lo a estudar, pedir-lhe satisfações quando tem negativas nos testes. cansa-me, a relação com as duas mais novas. quando uma quer saber, naquele exacto momento, se pode convidar vinte amigos para os anos - que só irá fazer dali a seis meses - e a outra me esgota a paciência, quando demora vinte minutos a engolir um prato de sopa. </div>
<div style="text-align: justify;">
cansa-me, sim, o quotidiano de que também são feitas as relações. cansa-me ter de gerir as rotinas, as expectativas, as ilusões e as desilusões, os contratempos, os desacertos, os ritmos... cansam-me, acima de tudo, os mil pensamentos que caem, a cada segundo, sem que eu sequer me aperceba. </div>
<div style="text-align: justify;">
no fundo, o que mais me cansa é pensar. </div>
<div style="text-align: justify;">
se for honesta, não é a relação com a minha mãe que me cansa, mas a ideia de que é cansativo ter uma mãe sempre a queixar-se e a expectativa de que seria tão bom se parasse. que descanso seria, se o meu pai nunca mais me perguntasse mais nada, porque só de pensar que vai perguntar, já fico cansada. se a filha mais velha não andasse aos altos e baixos, e os meus pensamentos aos altos e baixos, aos altos e baixos, aos altos e baixos, cansava-me menos. se não pensasse que o meu filho devia pensar noutras coisas, não me cansava a pensar nas coisas em que acho que ele devia pensar. </div>
<div style="text-align: justify;">
confuso? talvez. mas reparo que o cansaço, o cansaço maior, vem do que exijo de mim. que a relação que mais me desgasta, e afinal a única que posso mudar, é a que tenho comigo. cansa-me, aquele eu que se queixa e que me pede que dê atenção ao seu sofrimento. cansa-me o eu que me diz que estou aquém das minhas capacidades e que devia fazer muito mais do que faço, cansa-me o eu que vem dar aos meus braços num pranto e que me pergunta "porquê? porquê? porquê?". cansa-me acreditar que devia pensar noutras coisas e, afinal, pensar sempre nas mesmas. cansa-me antecipar, talvez não festas de anos, mas futuros para todos os planos, pormenores para cada um dos meus sonhos, cansa-me sobretudo pensar que provavelmente não sairão como quero, não serão como sonho. cansa-me demorar tanto tempo a engolir tantas coisas e mastigar outras tantas... </div>
<div style="text-align: justify;">
canso-me, canso-me imenso, canso-me tanto, quando a relação que tenho comigo não me satisfaz, quando penso em tudo o que queria fazer, em vez de estar atenta ao que faço, ou quando penso que devia ter feito isto ou aquilo de outra maneira, quando penso em desfazer o que fiz e, em pensamento, desfaço e refaço e desfaço e refaço e desfaço e refaço... canso-me. quando penso mais logo, mais tarde, quando penso "e se?", "e depois?", quando vou buscar provas, acontecimentos, razões para me convencer de que tudo o que penso é verdade. <br />
e então não sei se era deste cansaço que o meu amigo me falava ontem, se era desta exigência da mente, que nos faz estar sempre a pensar numa coisa qualquer, deste constante ir e vir que temos connosco, desta relação entre o corpo e a mente e o espirito, de todas as partes a que é preciso atender para sermos um todo. este cansaço de todos os dias nos vermos ao espelho, de nos relacionarmos com facetas de nós de que não gostamos, este cansaço de nos sentirmos humanos e frágeis e cheios de defeitos e a canseira que é, levarmos com isto todos os dias, sem nunca podermos fugir à relação que temos connosco e, acima de tudo, aos pensamentos que nunca paramos de ter :: sobre nós próprios e sobre os outros.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzpbKrkykLKruCrFUt0fVjLhyphenhyphen9mcz8khOhhno5zZjDflxGySTWjSNAYi7wmrxZmkrCGPIZpbiKU6jbnIxa_cpPLNkOkqWYg0vl3uYWDMw87XVfX-teCKzJIemarNQvtKCDpG3XAJ_k9ftP/s1600/pensar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="291" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzpbKrkykLKruCrFUt0fVjLhyphenhyphen9mcz8khOhhno5zZjDflxGySTWjSNAYi7wmrxZmkrCGPIZpbiKU6jbnIxa_cpPLNkOkqWYg0vl3uYWDMw87XVfX-teCKzJIemarNQvtKCDpG3XAJ_k9ftP/s320/pensar.jpg" width="320" /></a></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-17524512113675345332012-05-03T10:48:00.001+01:002012-05-03T10:48:40.560+01:00t e r r a *.<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFQyvVX6dyjscwyS7vWjOgqiHf1GswEhJySXmwrg_oT7jxj14v3EqaqPdDdWxGxryqkzEK2bn_RonbL8PbFjzVO1lfsIfTkBqi-6jjnNouZOLwPtv9OJ_x5s9grsKQh8LhC0b1xEZ2R7Si/s1600/TERRA-MOLHADA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="425" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFQyvVX6dyjscwyS7vWjOgqiHf1GswEhJySXmwrg_oT7jxj14v3EqaqPdDdWxGxryqkzEK2bn_RonbL8PbFjzVO1lfsIfTkBqi-6jjnNouZOLwPtv9OJ_x5s9grsKQh8LhC0b1xEZ2R7Si/s640/TERRA-MOLHADA.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
hoje voltei a lembrar-me. já noutro dia me tinha lembrado, quando cheguei ao ar livre e me cheirou a terra molhada. e precisei de tocá-la, porque só o cheiro não chegava, tinha de tê-lo colado aos meus dedos, apeteceu-me esfregar a cara, o corpo, a pele toda, queria que tudo tivesse a textura da terra, como daquela vez na cabana, em que suei e gemi de encontro ao seu ventre.</div>
<div style="text-align: justify;">
ando a revolver as águas maternas, talvez seja por isso que choro</div>
<div style="text-align: justify;">
ultimamente tenho chorado</div>
<div style="text-align: justify;">
tem chovido e o cheiro da terra devolve-me ao útero, reconduz-me às entranhas, aos lagos fecundos e femininos do corpo, às dores ancestrais das mulheres, à gestação dos afectos, à humidade do mundo. </div>
<div style="text-align: justify;">
mães. é disso que tenho andado a tratar e, neste momento, tenho uma a queixar-se, uma mãe de papel que se queixa da ausência do pai, da ausência dos pais, como se assim só fosse metade.<br />
metade de mãe.<br />
levará o seu tempo até que descubra onde é que se parte, pode até ser que nunca descubra, ainda não sei.<br />
chove e a terra traz-me a promessa: não há nada que me separe. e volto ao colo que me dá, de cada vez que me rendo. volto a lembrar-me de tudo, até sem saber o que é tudo. das viagens que faço de olhos fechados, do embalo das marés, da vulnerabilidade das aves, da orfandade dos anjos, coisas que invento, talvez seja disso que constantemente me lembro.<br />
voltei a lembrar-me de mim, de me terem rasgado as entranhas, dos hinos de espanto e louvor que vieram dar ao meu colo, de as cicatrizes, umas por cima das outras, serem a prova inquívoca de que as dores saram.<br />
voltei a lembrar-me de todas as mães que já tive. das mães todas que tenho. <br />
heranças, memórias, paisagens, pinhais e tenho uma mãe que plantou um no campo, manso como convém a quem procura um abrigo debaixo da copa das árvores, mais uma mãe de papel expiando o contágio da carne, nunca sei se é na ficção que imito a realidade ou se é com a vida que atiro para cima das minhas mães de papel, para que me aliviem da carga.<br />
não sei, mas voltei a lembrar-me.<br />
naquele dia, voltei a lembrar-me e hoje, mais uma vez, a chuva promete voltar e molhar tudo em volta: a relva, as memórias, as pálpebras. há uma série de coisas que me atravessam a alma quando verto palavras, quando quero converter o que sinto na escrita, há sempre uma parte que falta, um lugar indizível ao qual as palavras não têm acesso, um intervalo entre a voz e o peito. averiguar a verdade é inútil, portanto. é inútil esquecer-me de tudo e foi disso mesmo que hoje voltei a lembrar-me. </div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-91227884662887657652012-04-07T12:26:00.001+01:002012-04-07T12:30:08.169+01:00aleluia<div style="text-align: justify;">
que o torpor da morte não nos mergulhe no desespero de uma ausência, mas antes na doce tranquilidade da espera e no milagre de continuados renascimentos. há anos que não vou à missa, os dogmas em que a igreja se encerra estreitaram-me as margens do voo faz já muito tempo, prefiro a eternidade do espaço e do tempo às lei do jejum, a fé ampliada no peito às genuflexões em veludos de confesssionário, quando os homens se deixam levar pela bondade e abrem os braços, vejo neles a mesma penugem que cobre as asas dos anjos. <br />
que me perdoem os crentes, que buscam na liturgia a redenção dos pecados e na hóstia o encontro com deus, a mim faz-me sentido o mundo inteiro e cada um dos seres que o habitam morrendo e ressuscitando a cada dia que passa, faz-me sentido o céu mudando de tonalidade ao longo do dia, a comunhão de todos os seres numa essência comum, faz-me sentido experienciar deus nos gestos mais simples do quotidiano.</div>
<div style="text-align: justify;">
cristo não é sequer - para mim - uma metáfora do mártir, mas um homem comum que soube elevar-se acima dos condicionamentos e das contrariedades e dos caprichos e que, benignamente, deixou que a sua luz ficasse ao alcance de todos aqueles que escolhem viver de olhos abertos.</div>
<div style="text-align: justify;">
aleluia e talvez o significado da morte não seja mais do que um momento de pausa, um intervalo entre o que fomos e o que iremos ser, a conscência de que a cada instante das nossas vidas somos tudo o que somos e de que há uma páscoa presente em cada uma das nossas células. e se é certo que os homens precisam de histórias, que precisam de uma linguagem de símbolos para se situarem na realidade dos mitos, não é menos verdade que a alma se sobrepõe aos arquétipos. de que nos serve a celebração do mistério pascal se ao longo do resto do ano, se ao longo do resto da vida, não formos capazes de ressuscitar do sono mortal de todas as noites e de, a cada manhã, nos descobrirmos abençoados pelas infinitas possibilidades de recomeçarmos tudo de novo?<br />
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiq9e8eZJAOyXfpmjRB1Zeg6luGVPTpuiFwq6lnALkECrS8cyCDMnx_F7HseC-dghk3B6-fedk0fQacPbP-t_M4oISfCfPy1AaqQDecKlTtRDNqFqmH_NJ34fU6nbeI-741tZVY-aRg7sRk/s1600/nascer-do-sol-6.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiq9e8eZJAOyXfpmjRB1Zeg6luGVPTpuiFwq6lnALkECrS8cyCDMnx_F7HseC-dghk3B6-fedk0fQacPbP-t_M4oISfCfPy1AaqQDecKlTtRDNqFqmH_NJ34fU6nbeI-741tZVY-aRg7sRk/s640/nascer-do-sol-6.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-23983061195387193912012-04-06T19:16:00.002+01:002012-04-06T21:28:23.234+01:00tantas!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu9GHB12PB5XaQSPCotRgACKjMnDNA2fa6OW8kaKOV9wfLwBiOChvpI5jOUpEhu7r_ZMSKw3kWMF19otWb71hqzBtfMUjjgA-ya_dzinQ-cewGaEMQ-S9YGKE23-GSEF9783jJuHJ800Hl/s1600/olho.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="430" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu9GHB12PB5XaQSPCotRgACKjMnDNA2fa6OW8kaKOV9wfLwBiOChvpI5jOUpEhu7r_ZMSKw3kWMF19otWb71hqzBtfMUjjgA-ya_dzinQ-cewGaEMQ-S9YGKE23-GSEF9783jJuHJ800Hl/s640/olho.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
as coisas que tenho para te dizer e que trago guardadas à espera do dia em que me saibas ouvir. não é falta de tempo nem de vontade nem de paciência, é simplesmente não teres ainda focado a tua atenção no meu peito e continuares à procura do movimento e dos sons nos meus lábios. como se as coisas que tenho para te dizer estivessem no movimento e no som das palavras. não estão e é por isso que as trago guardadas. para já, estão guardadas em mim até sentir que és capaz de as ouvir sem que eu diga nada. parece-te estranho e eu sei, que achas estranho o silêncio atrás do qual me resguardo, estranha esta maneira que tenho de falar contigo sem que os músculos do meu aparelho fonético se ponham em marcha, estranha a possibilidade de poder haver um canal onde nenhum ruído humano interfere nas mensagens que o céu nos envia.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
sim, podia escrevê-las aqui, é verdade, essas coisas que tenho para te dizer, mas que esperam pelo dia em que possas focar a tua atenção no meu peito. posso escrevê-las agora e esperar que as descubras, que afinal se revele o que guardo através de um canal de néon. mesmo não sendo sequer parecido com a luz que entrevejo cá dentro, é perfeitamente capaz de acolher o que sinto. aviso, porém, que aqui sim, há ruídos que podem interferir, ruídos humanos, como a polpa dos dedos tocando nas teclas, mas também o ruído dos pássaros todos lá fora, a esvoaçar sobre a relva e a debicar a roseira, o murmúrio do mar lá ao fundo, de cada vez que desata a dar beijos à areia, a plenitude da lua a encher-se de branco e hoje estará cheia, em Balança, homenageando, talvez, os desequilíbrios humanos e as metades que nem sempre sabemos juntar para nos tornarmos inteiros. a lua em Balança, o sol em Carneiro, é-me familiar o eixo que liga os dois astros e o desejo de que se encontrem a meio do caminho. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
tantas!, já reparaste?, as coisas que já nos dissémos e que não passaram de ideias, as palavras todas com que afastamos presságios, a ilusão de que fazem sentido, a evidência de que geram equívocos. trago mil coisas guardadas cá dentro que só são verdadeiras porque não são dizíveis. mil coisas guardadas à espera do dia em que não seja mais preciso dizê-las porque as sentimos tal como são e não como nos parecem, quando são ditas e ficam aquém do que somos. </div>
<div style="text-align: justify;">
como os olhos às cores que colei por cima dos teus e que apenas nos provam que a humanidade, no que a ti diz respeito, olha para o mundo através do azul. fosse eu acreditar que era só isso, humanidade e mais nada o que os teus olhos revelam, e nunca seria capaz de ver para além dela. e, no entanto, aqui estamos nós, separados pela distância ilusória do espaço e as nossas almas livres no éter, acima dos planos comuns que traçaram para os dois quando descemos à terra e as moldámos à carne e ao quotidiano. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
e, sim, é possível que de repente nada faça sentido, que tenhas perdido o fio à meada, que aches estranho o que eu escrevo, que não seja nunca possível dizer-te o que trago guardado a não ser que se deixem de ouvir os ruídos humanos que interferem com o desejo das almas. o que sei, o que sinto, é que vivemos cheios dos caprichos humanos, cheios dessa vontade comum dos mortais de esgotarem as forças, vivemos a acreditar na separação e na dualidade do preto e do branco. e, sim, agora perdi o fio à meada e a leveza que hoje sinto nem sequer vem das coisas que trago guardadas para te dizer, mas da certeza de que não há nada que te eu possa dizer que tu ainda não saibas.<br />
<br />
e mais?<br />
<br />
♥</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-57370581443863111012012-04-06T17:59:00.000+01:002012-05-09T08:10:36.228+01:00despregar os olhos da cruz<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0ePjvmqzIEC_c-W7j-YaQGcrW_yTLxT41DEX5FhvjBYyYMEMr3qOmdCNyOrxxTpbZx_5SFd-xOqmW7Xd5B4EEgg8oUEKJCs9v65L8ihzLmoTYkkeviJXVHyTzBuFH_mIl8gbeb-M8HoAw/s1600/cruz_de_cristo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="473" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0ePjvmqzIEC_c-W7j-YaQGcrW_yTLxT41DEX5FhvjBYyYMEMr3qOmdCNyOrxxTpbZx_5SFd-xOqmW7Xd5B4EEgg8oUEKJCs9v65L8ihzLmoTYkkeviJXVHyTzBuFH_mIl8gbeb-M8HoAw/s640/cruz_de_cristo.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
que o sofrimento engrandece e que aumenta exponencialmente as hipóteses de nos tornarmos mais fortes, mais sábios e mais evoluídos, já todos sabemos. e não é para quem quer, é só para quem pode, como se se tratasse de um luxo, de um mérito reservado aos eleitos, de uma qualidade dos mártires, embora também assole, afinal, todo e cada um ser mortal que se preze, feito da carne comum que a todos nos cobre. sofrer. sofrer muito. sofrer até que não haja mais nenhuma célula que não lateje de dor. sofrer nem sequer até dizer chega, porque não há nada que chegue, nem sempre há algo que faça passar, alguma coisa que cure, que alivie, a não ser sofrer ainda mais e aguentar firme, enquanto mágoas e dores nos rasgam por fora, ao mesmo tempo que nos comem por dentro. </div>
<div style="text-align: justify;">
temos todos dias assim, vidas assim, manias assim. a imagem de Cristo na cruz, com as mãos e os pés esventrados por pregos e coroada de espinhos, deixou-nos gravada nos genes esta certeza de que só quem sofre até aos limites pode algum dia vir a alcançar as alturas, o paraíso, o reino dos céus. experimentem passar os vossos dias na calma beatitude dos que não padecem de qualquer espécie de mal, dos que não se queixam de nada, não são acometidos por espamos nem febres e verão como é pouco o respeito que colhem em troca. quem não sofre, por pouco que seja, não é digno de compaixão, de carinho, de mimos. tão pouco é normal, já que o normal, humanamente falando, é sofrer. e então agarramo-nos à normalidade, agarramos-nos ao sofrimento, carregamos cruzes às costas até ficarmos em sangue, até ficarmos exangues, esventramos os pés e as mãos e o peito e exibimos as feridas como se fossem medalhas de guerra. e assim vamos ganhando algum mérito, conquistando a compaixão dos que nos rodeiam, que nos pegam ao colo e que nos fazem festas e que nos limpam as lágrimas, ao mesmo tempo que dizem "pronto, pronto, já passa". com sorte, somos aquele ou aquela "que já sofreu tanto" e isso, de certa forma, dá-nos estatuto, dá-nos credibilidade, dá-nos alento e razões para não abrirmos mão de tudo o que nos queima por dentro. não concebemos sequer a possibilidade de o sofrimento ser só uma ideia, um conceito, um preconceito, uma herança. e sofremos até quando não queremos sofrer. sofremos para não sofrer mais. </div>
<div style="text-align: justify;">
despregar os olhos da cruz é negar a nossa própria humanidade e é por isso que nos é tão difícil fazê-lo. quem seríamos nós, sem dores e sem feridas? quem seríamos nós, se não houvesse mais nada de que nos queixássemos? quem seríamos nós, se Cristo afinal não tivesse sido cruxificado? e, no entanto, todos nós temos dias assim, pedaços de vida sem dor, momentos em que despregamos os olhos das feridas, alturas em que sofrer nos parece, afinal, o maior dos absurdos e o desperdício mais estúpido. quase me atreveria a dizer que, quando largamos as nossas dores, quando as esquecemos, quando nem sequer nos lembramos que as temos, não sabemos quem somos. a leveza que toma conta de nós parece irreal, levitamos como se não houvesse mais peso, tornamo-nos anormalmente felizes. humanamente, porém, é impossível que o sofrimento nos tenha deixado para sempre a gozar dessa anormalidade, ou então seríamos anjos ou qualquer outra coisa que a matéria não pudesse atingir. </div>
<div style="text-align: justify;">
mas somos humanos, pois é. não deixou de haver carne nem sangue, não deixou de haver cruz, não se escoou do nosso corpo a memória das dores ancestrais, nem nós saberíamos o que fazer se o lugar onde sempre as guardámos desaparecesse sem deixar rasto do nosso mapa genético. e, de novo, sofremos. sofremos tanto, sofremos por tudo, sofremos por nada, sofremos até quando não sabemos por que é que sofremos, quase como se a dor fosse uma prova de vida, uma garantia de que continuamos aqui, uma maneira de ocuparmos o tempo, um mérito que um dia nos fará ser merecedores da redenção e da glória dos céus. </div>
<div style="text-align: justify;">
e então desprego os olhos da cruz, palpo o meu corpo e não encontro uma única chaga, não há sequer cicatrizes de feridas antigas, não me dói nada. desfaço a noção que tenho de mim como um punhado perene de ossos, de órgãos, de células, de músculos e nada lateja. ponho as mentiras de lado e desligo os ecrãs onde, repetidamente, se projectam todos os filmes desde que nasci até hoje e alguns outros que nem sequer aconteceram ainda. escrevo 'paixão' na certeza de que as palavras nem sempre falam verdade. é sexta feira e a paixão de hoje exala um hálito trágico que não vou respirar. e escolho escrevê-la sem recorrer à memória de nada, mas apenas à terra que habito. pai chão. e Cristo surge-me então como uma luz de presença benigna. e o milagre da cura é segui-la sem deixar que se apague, já que é apenas no escuro que o sofrimento se acende.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-56813797380067069192012-02-16T15:26:00.002+00:002012-02-16T15:31:54.475+00:00estende-se ao sol.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMAC63Qh5zY9AUxcK00SwEYOJGK-z72W6b2T_FggHHzspbs-v2UkQ7jEBzAW3q_Hw1OTK67djInBcdkLp8EgII5ggtKV56GEhhkslnbODsqaEOavoP1v5eh8EnLvyERsTgsSuPhacFmVQn/s1600/mulher.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMAC63Qh5zY9AUxcK00SwEYOJGK-z72W6b2T_FggHHzspbs-v2UkQ7jEBzAW3q_Hw1OTK67djInBcdkLp8EgII5ggtKV56GEhhkslnbODsqaEOavoP1v5eh8EnLvyERsTgsSuPhacFmVQn/s320/mulher.jpg" width="320" /></a></div><br />
há dias e dias que o céu lhe chega banhado de azul<br />
e agradece e diz<br />
obrigada<br />
em voz alta.<br />
dias em que fala com ela, até quando parece que fala com ele.<br />
obrigado<br />
diz ele em voz baixa.<br />
estende-se ao sol e isso é tudo o que importa neste momento ::<br />
reparar no céu abaulado<br />
tum tum<br />
sentir-se banhada de azul ::<br />
obrigada ~<br />
<br />
<br />
<br />
de verde :<br />
diz ele<br />
e ela mostra-lhe a relva.<br />
estende-se ao sol e mostra-lhe a relva e ele diz :<br />
antigamente deitava-me aqui mas agora não posso porque a pintaste de azul.<br />
é só uma crença<br />
diz ela<br />
e o céu fica banhado de verde. <br />
não tarda e haverá bunganvílias vermelhas a trepar pelos muros<br />
é outra vez primavera<br />
diz ela <br />
e estende-se ao sol e renasce para o céu, renasce para a relva, renasce para ela.<br />
tum tum<br />
e ele nada ::<br />
não quis banhar-se de azul nem lhe abriu as asas.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-44689064339591541902012-02-15T12:07:00.003+00:002012-02-15T12:11:55.612+00:00ɐ l ʄ ɑ ɓ ɜ ʈ θ ʂ ~*.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div>acreditam que sim, que falam a mesma língua.<br />
que ele dizer<br />
amo-te<br />
e ela<br />
ɐɱθ~tɜ<br />
<div style="text-align: justify;">os irá levar ao mesmo refúgio e que irão servir-se das mesmas metáforas, dos mesmos padrões, das mesmas vivências. </div><div style="text-align: justify;">ou seja, irão entender-se.</div><div style="text-align: justify;">ele bate</div><div style="text-align: justify;">tum~tum</div><div style="text-align: justify;">ela ouve</div><div style="text-align: justify;">⊺ʉɱ::⊺ʉɱ</div><div style="text-align: justify;">e abre-lhe ɒ ƥθʀʈ∀</div><div style="text-align: justify;">mas ele não entra, porque não vê porta nenhuma.</div><div style="text-align: justify;">os alfabetos são como os afectos</div><div style="text-align: justify;">diz ela</div><div style="text-align: justify;">cada um tem os seus</div><div style="text-align: justify;">e mostra-lhe os dela ::</div><div style="text-align: justify;">ɐ l ʄ ɑ ɓ ɜ ʈ θ ɖe ∀fəc⊺⊙ʂ </div><div style="text-align: justify;">se lhe falarem de afectos, talvez não saiba o que são.</div><div style="text-align: justify;">afectos</div><div style="text-align: justify;">diz ele</div><div style="text-align: justify;">e ela não sabe o que são.</div><div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6xBROTmvZQtfgdM5HNb9aBsqH1xq8sF4vsY6_9VJmxI9UY8B__bf7HKHP_wCR4H-6TRzn_n6vOBCB2krhJggIaHdE77sCjuEDnOkHspSAK-n8nmSZ5k-I-VKlwhjwnRdeRkUPU4cZq67W/s1600/alfabeto.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="146" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6xBROTmvZQtfgdM5HNb9aBsqH1xq8sF4vsY6_9VJmxI9UY8B__bf7HKHP_wCR4H-6TRzn_n6vOBCB2krhJggIaHdE77sCjuEDnOkHspSAK-n8nmSZ5k-I-VKlwhjwnRdeRkUPU4cZq67W/s200/alfabeto.jpg" width="200" /></a>∀ɱ⨀ʁ?</div><div style="text-align: justify;">e ele não reconhece a expressão.</div><div style="text-align: justify;">mas, sim, acreditam :: que falam do mesmo. </div><div style="text-align: justify;">falam de ʈuɗɸ e ʈuɗɸ é um mundo</div><div style="text-align: justify;">tudo e nada e um mundo para ele</div><div style="text-align: justify;">ʈuɗɸ ɜ ɴɐɖ∀ ⋿ ʋʍ ɱ∪nɖ⨀<br />
para ela.<br />
falam sempre do mesmo :<br />
só que em línguas diferentes. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-87572704767553191202012-02-14T12:53:00.002+00:002012-02-14T15:58:00.504+00:00ou é, ou é ::<div style="text-align: justify;">e dispôs as palavras em círculo.</div><div style="text-align: justify;">vais fazer uma mandalma?</div><div style="text-align: justify;">quis ele saber.</div><div style="text-align: justify;">vinha de humano, hoje vinha de humano e tinha voz de homem. não tinha batido à porta e entrara sem pedir-lhe licença</div><div style="text-align: justify;">tum tum ::</div><div style="text-align: justify;">quem entra assim é o anjo</div><div style="text-align: justify;">disse ela</div><div style="text-align: justify;">mas tu tens de pedir licença<br />
e ele pediu :</div><div style="text-align: justify;">posso entrar?</div><div style="text-align: justify;">~</div><div style="text-align: justify;">ou és um anjo, ou és um homem</div><div style="text-align: justify;">disse ela</div><div style="text-align: justify;">e dispôs mais palavras num círculo menor e já eram dois círculos, um dentro do outro.</div><div style="text-align: justify;">tens a certeza?</div><div style="text-align: justify;">perguntou ele</div><div style="text-align: justify;">mas continuou a dispor as palavras em círculos e não respondeu e ele insistiu :</div><div style="text-align: justify;">se for homem não posso ser anjo e se for anjo não posso ser homem, é isso?</div><div style="text-align: justify;">não é isso</div><div style="text-align: justify;">disse ela.<br />
e já ia no sexto círculo.</div><div style="text-align: justify;">são sete</div><div style="text-align: justify;">e mostrou-lhe e ele disse</div><div style="text-align: justify;">sempre é uma mandalma, afinal.<br />
~ </div><div style="text-align: justify;">ou és um homem-anjo, ou és um anjo-homem<br />
disse ela. </div><div style="text-align: justify;">qual é a diferença?</div><div style="text-align: justify;">quis saber ele.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjymM-WdDLz2OGxPFyyC5BAE2n6_Gw48dHCE63dmjUD9RfY9xlwBIfDYYDpekR0oIcXtLuPKBi2tgM4c8aVa8jzzqZobuQySDR9GTB4zNc-cDw3mug_lq7ZqwmYDkT8KKgbx3Nk8RkBpqC7/s1600/anjo+redondo.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjymM-WdDLz2OGxPFyyC5BAE2n6_Gw48dHCE63dmjUD9RfY9xlwBIfDYYDpekR0oIcXtLuPKBi2tgM4c8aVa8jzzqZobuQySDR9GTB4zNc-cDw3mug_lq7ZqwmYDkT8KKgbx3Nk8RkBpqC7/s1600/anjo+redondo.png" /></a></div>concentra-te só na mandala <br />
disse ela.<br />
e ele concentrou-se ::<br />
<br />
ou és um homem-anjo e vês a mandala de fora para dentro, ou és um anjo-homem e és tu que a teces ::<br />
de dentro para fora. <br />
percebes?<br />
o homem-anjo tece os casulos e o anjo-homem :: as asas<br />
tum tum ::<br />
ah<br />
disse ela, quando o viu levantar-se<br />
e só mais uma coisa :<br />
da próxima vez :: bate à porta '<br />
<br />
<br />
:: :: ::<br />
<span style="font-size: xx-small;">continua </span>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-1657265139272938162012-02-11T10:37:00.003+00:002012-02-11T15:40:12.761+00:00és carne vivadisse ela.<br />
e ele encolheu-se e pediu-lhe<br />
não toques.<br />
mostrou-lhe as feridas:<br />
aqui<br />
e aqui<br />
e aqui.<br />
tantas!<br />
disse ela.<br />
ardem, não toques<br />
voltou ele a pedir-lhe.<br />
<div style="text-align: justify;">e então ela lembrou-se do anjo, lembrou-se de como nunca nada lhe ardia, nessa altura era ela quem se encolhia, apontava-lhe as feridas e o anjo lambia-as até que ficassem em crosta e dizia ::</div><div style="text-align: justify;">põe-te ao sol que isso sara</div><div style="text-align: justify;">e ela durante dias a fio exibindo as feridas à sombra. </div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcznrfR5UL7-BHb1OYU5PnE4wGiKc1vnc5QpZcFmyXlbBE_4GbhPYbxOzY3yGTlyxs6W0-jWIj3XhR8uxv-e_2AsfHtXkFRvCz5EG_2OpOpJPJCoOgIehl6QToa1JpNdpPnPQLu4i9Hb8R/s1600/corac%CC%A7a%CC%83o+do+anjo.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcznrfR5UL7-BHb1OYU5PnE4wGiKc1vnc5QpZcFmyXlbBE_4GbhPYbxOzY3yGTlyxs6W0-jWIj3XhR8uxv-e_2AsfHtXkFRvCz5EG_2OpOpJPJCoOgIehl6QToa1JpNdpPnPQLu4i9Hb8R/s1600/corac%CC%A7a%CC%83o+do+anjo.jpg" /></a>aqui<br />
e aqui<br />
e aqui.<br />
<div style="text-align: justify;">deitava-se à noite e as cartilagens rangiam, de cada vez que mudava a disposição dos fantasmas nos sonhos, as estrelas ardiam de cada vez que o céu não se abatia sobre ela. <br />
põe-te à luz<br />
dizia-lhe o anjo<br />
apontava-lhe a carne viva do coração e ela dizia<br />
arde<br />
e pedia<br />
não toques.<br />
<br />
<br />
:: :: ::<br />
<span style="font-size: xx-small;">continua</span></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-12825237610632464452012-02-10T10:23:00.000+00:002012-02-10T10:23:01.012+00:00anda<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRu4LnDMW08_xPKEZUf6SMg9g4GUnH0tmNej-iHUF5xXzGkC3fUdVSjdLPIrVL0I0lNLo4hNC2Tk2HYyMI7urdOqNsPQ3Pgq93GEhLa12n6fUOxV4LfbYeZq10E041JDAuo3bYH0_IYb6Z/s1600/cara+do+anjo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRu4LnDMW08_xPKEZUf6SMg9g4GUnH0tmNej-iHUF5xXzGkC3fUdVSjdLPIrVL0I0lNLo4hNC2Tk2HYyMI7urdOqNsPQ3Pgq93GEhLa12n6fUOxV4LfbYeZq10E041JDAuo3bYH0_IYb6Z/s320/cara+do+anjo.jpg" width="291" /></a></div><br />
disse ela<br />
puxando devagarinho os seus olhos até ao lugar onde deixavam de ver.<br />
fazia tão escuro que achou que cegava. <br />
não puxes<br />
e ela parou.<br />
isso cansa<br />
disse ele.<br />
<div style="text-align: justify;">sabia que sim e que era por isso que adormeciam todos os dias estoirados, de luz apagada. </div>cegos<br />
disse ela<br />
e ele repetiu ::<br />
isso cansa. <br />
<br />
<br />
<br />
<br />
:: :: ::<br />
<span style="font-size: xx-small;">continua</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-11742427998928251242012-02-08T14:11:00.001+00:002012-02-08T14:11:56.638+00:00se havia ali um par de asas, ainda não se notava<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbBQq6NU8Jc5sKMDPhzjvDD3qPn8Qg8zzJ2g3Ak8CbNN1167Oe5H7n9E5lHAdffxYmuQy8tbIeooTmX5WQejAVu3dTpAMEHSAG4yulXWXFDOt9v5srXba5q9h0ctEo175bpDf_j3Lz9Kp4/s1600/maio+anjo.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbBQq6NU8Jc5sKMDPhzjvDD3qPn8Qg8zzJ2g3Ak8CbNN1167Oe5H7n9E5lHAdffxYmuQy8tbIeooTmX5WQejAVu3dTpAMEHSAG4yulXWXFDOt9v5srXba5q9h0ctEo175bpDf_j3Lz9Kp4/s320/maio+anjo.jpg" width="160" /></a></div><br />
<br />
<br />
mas notam-se os braços<br />
disse ele.<br />
e abriu-os para ela e estavam cobertos de penas humanas. <br />
não chega<br />
disse ela<br />
e doeu-lhe.<br />
que pena<br />
disse ele<br />
e voltou a fechá-los.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
:: :: ::<br />
<span style="font-size: xx-small;">continua</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-43436015256023403872012-02-07T22:30:00.001+00:002012-02-07T22:32:27.585+00:00a humana~idade do anjo<div style="text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJ6FTT9yC61YFuRX4Yl2G5PwrfWfSd_aCiR5klIAO9fizRNudmF7YsLgrhvymDf9AVJ_3BodRB4c3RmxBmXd3BEnriGzaHNC3HqPWJ5LCVesQdb-ngSbk1YF3CXpMpEsRaSbKOOsAfxY9F/s1600/anjo.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJ6FTT9yC61YFuRX4Yl2G5PwrfWfSd_aCiR5klIAO9fizRNudmF7YsLgrhvymDf9AVJ_3BodRB4c3RmxBmXd3BEnriGzaHNC3HqPWJ5LCVesQdb-ngSbk1YF3CXpMpEsRaSbKOOsAfxY9F/s200/anjo.jpg" width="200" /></a>tum tum</div><div style="text-align: justify;">e batiam à porta.</div><div style="text-align: justify;">quem é</div><div style="text-align: justify;">perguntou ela :<br />
e era o técnico, desta vez para arranjar um esquentador empanado e por isso foi rápido, não houve conversas, tão pouco referiram as buganvílias que, nesta altura do ano, trepam sem flor às paredes, ele chegou a meio da manhã e foi directo ao esquentador empanado, demorou-se quarenta e cinco minutos, nem sequer levou muito caro - já que vinha da parte da pedicura da mãe de uma amiga - no final deu-lhe um aperto de mão e ela disse</div><div style="text-align: justify;">muito obrigada</div><div style="text-align: justify;">e foi tudo.</div><div style="text-align: justify;">depois do almoço, batiam de novo e agora era ela</div><div style="text-align: justify;">tum tum ::</div><div style="text-align: justify;">e ele veio abrir e ela achou-o :</div><div style="text-align: justify;">cansado ~</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">:: :: ::</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: xx-small;">continua</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-90823651097729274652012-02-06T23:36:00.005+00:002012-02-07T10:50:15.029+00:00os anjos são fáceis de amar<div style="text-align: justify;">disse ele.</div><div style="text-align: justify;">tantos dias de ausência e ei-lo de volta, algodão a cair rente à janela do tecto, um novelo de luz mansa colando-se ao vidro</div><div style="text-align: justify;">voltaste!</div><div style="text-align: justify;">disse ela.</div><div style="text-align: justify;">e sentiu o bater das asas aceso quando abriu os braços para o ir saudar ::</div><div style="text-align: justify;">que saudades!</div><div style="text-align: justify;">:: </div><div style="text-align: justify;">batia como já tinha batido outras vezes, batia naquela cadência que só os anjos sabem trazer, num silêncio pausado, profundo, batia sem descompasso nenhum ~ amorosamente ~ , a gravidade em torno do eixo puxava-o para o centro com tanta leveza que deu por ele instalado no peito.</div><div style="text-align: justify;">tum tum.</div><div style="text-align: justify;">os anjos são fáceis de amar</div><div style="text-align: justify;">voltou ele a dizer, agora do lado de dentro e sem abrandar o pulsar</div><div style="text-align: justify;">tum tum.</div><div style="text-align: justify;">repara ::</div><div style="text-align: justify;">e chamou-lhe a atenção, criando-lhe ainda mais espaço na alma, como se fosse uma espécie de ardor e a luz entrasse por ele às golfadas, e a seguir continuou a soprar.</div><div style="text-align: justify;">somos perfeitos, bonitos, bondosos ::</div><div style="text-align: justify;">os anjos são a graça de deus</div><div style="text-align: justify;">brincou ela.</div><div style="text-align: justify;">Graça</div><div style="text-align: justify;">corrigiu ele </div><div style="text-align: justify;">e estendeu o milagre até Deus e depois distendeu-o de volta à humanidade e a seguir suspirou ::</div><div style="text-align: justify;">os homens são difíceis de amar.</div>pareceu-lhe cansado e ela tossiu.<br />
no peito, o novelo de algodão relembrou-lhe o pulsar<br />
tum tum ::<br />
olhos de luz<br />
lembrou-se ela, e veio-lhe um travo a perfume.<br />
diz-se que vêem o fundo do fundo...<br />
diz-se que sim<br />
disse o anjo.<br />
e acrescentou que o fundo do fundo é :: cristalino ::<br />
<div style="text-align: justify;">enroscaram-se mais e, de cada vez que se enroscam assim, ela lembra-se das bunganvílias e do terraço e de terem brindado à <a href="http://ahumanidadedosporques.blogspot.com/2010/10/era-tarde-quando-chegamos-casa.html">morte do anjo</a>, pouco depois se ter despenhado na praia, e riem-se os dois. </div><div style="text-align: justify;">tum tum ::</div><div style="text-align: justify;">se eu não fosse um anjo, tu não me amavas assim ~</div><div style="text-align: justify;">disse o anjo.</div><div style="text-align: justify;">e, quando ela voltou a tossir, ele dispôs-se a mostrar-lhe o seu lado humano e voltou a dizer-lhe :</div><div style="text-align: justify;">- os homens são difíceis de amar.<br />
::<br />
ficaram assim. ainda enroscados e ela a lembrar-se do anjo à mercê da praia mortal, da multidão e das câmaras, do suor das palavras, das cartilagens sangrando e uma mancha de pele enclausurando-lhe as asas</div><div style="text-align: justify;">já volto :<br />
disse ele<br />
<br />
e então também disse que, quando voltasse, teria voz de homem e ~ provavelmente ~ viria de luz apagada.<br />
tum tum ~ <br />
<br />
<br />
<br />
:: :: ::</div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: xx-small;">continua</span></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpjVz70smfrSPqgHvrwRvaH2SYd88WPsG6nGXKDMKXSkVVxu0F6JGPZCkvv6MVYyoOJMm3D6B6uXirpb2j68JtV9Gjlccck1-SNTDBYRIGcpmNWZQgBUjOPL1YdSj7TE09WvV0yzf5XHNq/s400/anjo.jpg" width="400" /></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="http://mattstone.blogs.com/photos/angel_art/guardian-angel-picture.jpg">daqui</a></td></tr>
</tbody></table><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-33965656938323041002011-11-14T14:49:00.001+00:002011-11-14T14:50:21.055+00:00e que não<div style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAwWSlpRagWiwIJbhhbOvUGUyCn0H_9WHrrgK4clj2poCAzF0J7OPp0tYn3CnuxrigrsqawG8SgIWMGRgYHloMGX6Mcfdz4_mhwzAgbpMggcZrSdge_dIXXIDKJdHJkN9ClQz82lQrpWwn/s1600/azul+tipo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAwWSlpRagWiwIJbhhbOvUGUyCn0H_9WHrrgK4clj2poCAzF0J7OPp0tYn3CnuxrigrsqawG8SgIWMGRgYHloMGX6Mcfdz4_mhwzAgbpMggcZrSdge_dIXXIDKJdHJkN9ClQz82lQrpWwn/s400/azul+tipo.jpg" width="400" /></a></div><div style="text-align: justify;">que não a larga</div><div style="text-align: justify;">diz o anjo</div><div style="text-align: justify;">e ela ri-se. </div><div style="text-align: justify;">ri-se ao sol, ri-se da luz a entrar pela janela da casinha, dos planos onde ultimamente se abrem portas sem que as vejam, dos universos paralelos onde se têm encontrado, ri-se o anjo do impasse onde julgam que caíram. e ri-se o mundo inteiro girando e rodando em câmara lenta, em câmara ardente aquilo que os corpos já não guardam, ao pó o pó, ao pó as cinzas, tantas velas que se acendem para pedir tantos milagres e a chama acesa e limpa a arder ao ar, apenas isso.</div><div style="text-align: justify;">apenas isso</div><div style="text-align: justify;">diz o anjo</div><div style="text-align: justify;">que não a larga a não ser quando decide não ouvir o que lhe sopra, quando se afasta da canção e não quer voltar a casa, quando regressa à escuridão que não é mais do que apagar-se, nada nada para cumprir a não ser compreender-se entre linhas invisíveis, transcender-se, co-criar-se e o anjo... ri-se. </div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-54686287303997159752011-11-14T09:23:00.001+00:002011-11-14T12:04:01.711+00:00e que sim<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_nanZzpgNlL3HZhSGHkam23sRXYQJkqHRmXC6k3GCYHtY0WfNo26_9iJvG9LhAOtt3mskWwr1IEF2kcUjJsZnYKxP3un0FMNu9GOwdcxzXgDeOjO_trq211xNyXKanWPqs5HLirczL9M0/s1600/livro+em+branco+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="307" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_nanZzpgNlL3HZhSGHkam23sRXYQJkqHRmXC6k3GCYHtY0WfNo26_9iJvG9LhAOtt3mskWwr1IEF2kcUjJsZnYKxP3un0FMNu9GOwdcxzXgDeOjO_trq211xNyXKanWPqs5HLirczL9M0/s320/livro+em+branco+2.jpg" width="320" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">e que assim se vão cumprindo</div><div style="text-align: justify;">diz o anjo.</div><div style="text-align: justify;">na urgência que não têm um do outro e na esperança que dedicam a si mesmos. que assim, sim, fazem caminho, em cima dos próprios passos e abrindo cada um o seu par de asas e que a liberdade é isso, é dar voz à igualdade, sem cobrar o que não dão, sem pedir o que não têm, sem temer que lhes falte algo. uma mão cheia de tudo e a outra tão vazia, com tanto espaço para colher seja o que for que semearem, num canteiro, numa mandala ou no campo ou onde for, sujeito ao sol, sujeito à chuva e à passagem das estações - que a todos guiam e acabam por conduzir os beija-flores à primavera. </div><div style="text-align: justify;">e que não, que não há pressa, não há tempo quando a vida se condensa num só ponto que é comum e que expandi-lo não depende mais das horas, nem dos dias, nem dos meses, nem dos anos, mas da alma e que é claro que se amam tanto!, o universo inteiro em espelho a reflectir a vibração, a criação, o embrião que em silêncio e às escuras se transforma e se transmuta e se dá à luz um dia, enfim livre do cordão e das entranhas que o tornavam dependente de alimento. e que a tontura, que sentiu a subir por ela acima, a vertigem de ver tudo a andar à roda, foi o centro que a ancorou ao seu eixo de balança. e que nele foi o vento e esse amanhecer das cinzas, de onde se faz fogo outra vez e se retoma a primazia que se tem na própria vida. </div><div style="text-align: justify;">e que então não é tudo, mas que é tanto</div><div style="text-align: justify;">sopra o anjo</div><div style="text-align: justify;">para dentro de um livro em branco... </div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2852123763780068321.post-89790210068899812322011-11-13T17:36:00.000+00:002011-11-13T17:36:26.365+00:00as asas têm homens<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6xFp9aXWb5Eo8_OQDsAF-4oRhz5xWf8frMZmvbS0Iz3j-fNYi4H5bMgI9rbWghpBke1rn_LhELGW6_kd7dcQslZNpV9YzlNsq7lLgBPj4Ztlp2tkAq31VzPfaUfqzCkAMDq_IvZ1l1hNk/s1600/brac%25CC%25A7os.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="315" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6xFp9aXWb5Eo8_OQDsAF-4oRhz5xWf8frMZmvbS0Iz3j-fNYi4H5bMgI9rbWghpBke1rn_LhELGW6_kd7dcQslZNpV9YzlNsq7lLgBPj4Ztlp2tkAq31VzPfaUfqzCkAMDq_IvZ1l1hNk/s320/brac%25CC%25A7os.jpg" width="320" /></a></div><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
disse-lhe ela,<br />
quando o sentiu dentro das suas.<br />
abriam-se e fechavam-se<br />
e abriam-se e fechavam-se<br />
e abriam-se e pediu-lhe:<br />
nunca mais feches os braços<br />
senão volta a doer tudo.Unknownnoreply@blogger.com0